Uso de informação privilegiada leva ex-analista da Janus Henderson e irmã à prisão em Londres
O escândalo envolvendo o uso de informação privilegiada abalou o mercado financeiro do Reino Unido em julho de 2025. Redinel Korfuzi, ex-analista do renomado Janus Henderson Group Plc, e sua irmã, Oerta Korfuzi, foram condenados à prisão após o desmantelamento de uma sofisticada rede de insider trading, revelando como a ganância e a quebra da ética profissional podem comprometer a integridade dos mercados globais.
A condenação, proferida pelo Tribunal da Coroa de Southwark, em Londres, marca um dos casos mais emblemáticos de lavagem de dinheiro e uso de informação privilegiada já julgados pela Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido (FCA), refletindo os riscos e as consequências do mau uso de informações sigilosas dentro do mercado financeiro.
Quem são os envolvidos
Redinel Korfuzi, de 38 anos, atuava como analista na Janus Henderson, uma das gestoras de ativos mais respeitadas da Europa. Durante os anos críticos da pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2021, ele utilizou seu acesso a informações confidenciais sobre movimentações estratégicas de empresas listadas para arquitetar um esquema de insider trading em conjunto com sua irmã, Oerta Korfuzi, de 36 anos.
Enquanto as empresas enfrentavam os desafios do distanciamento social e das negociações remotas, os irmãos aproveitavam o home office para operar de forma ilícita diretamente de um apartamento em Londres. Juntos, conseguiram lucrar aproximadamente £1 milhão, o equivalente a US$ 1,4 milhão, com operações realizadas em plataformas de investimento online.
O funcionamento do esquema
O esquema liderado por Redinel baseava-se na antecipação de vendas de grandes blocos de ações ou emissões secundárias por parte de empresas listadas. Tais eventos, geralmente mantidos em sigilo até o anúncio oficial, tendem a impactar negativamente o valor das ações, já que aumentam a oferta no mercado.
Com essas informações em mãos, Redinel aplicava estratégias de venda a descoberto alavancada por meio de contas registradas em nome de sua irmã e outros cúmplices. As apostas eram feitas contra ações de empresas como Jet2 Plc e Vonovia SE, pouco antes de as notícias se tornarem públicas. Com a queda das ações, eles obtinham lucros expressivos.
Oerta não apenas emprestava seu nome às contas utilizadas para as operações como também participava ativamente na movimentação do dinheiro obtido ilicitamente. Juntos, construíram uma rede de lavagem de dinheiro e mascararam os ganhos, desviando a atenção das autoridades por algum tempo.
O julgamento e a decisão da Justiça britânica
O julgamento dos irmãos Korfuzi começou em fevereiro de 2025 e foi acompanhado de perto por todo o mercado financeiro. Durante o processo, a FCA apresentou provas de que Redinel utilizou sua posição privilegiada dentro da Janus Henderson para obter dados estratégicos sobre empresas em processo de capitalização, e que usou esses dados de forma deliberada e consciente para operar no mercado.
O juiz Alexander Milne foi categórico ao afirmar que o uso de informação privilegiada mina a confiança do público no sistema financeiro. A sentença condenou Redinel a seis anos de prisão, enquanto sua irmã Oerta recebeu cinco anos.
Além da pena privativa de liberdade, o tribunal deverá conduzir uma nova fase processual voltada para a recuperação dos valores obtidos ilicitamente, podendo bloquear bens e ativos financeiros vinculados aos réus.
A reação da FCA e do mercado
A FCA (Financial Conduct Authority), órgão responsável por regulamentar e supervisionar o setor financeiro no Reino Unido, classificou o caso como um exemplo claro de manipulação e abuso do sistema por indivíduos movidos pela ganância. Segundo a instituição, é dever das autoridades proteger os investidores e garantir a equidade do mercado.
A condenação dos Korfuzis reforça o compromisso da FCA com a tolerância zero em relação ao uso indevido de informação privilegiada e destaca o papel da fiscalização contínua mesmo em um ambiente financeiro cada vez mais digitalizado e descentralizado.
O que é uso de informação privilegiada?
O uso de informação privilegiada, também conhecido como insider trading, ocorre quando uma pessoa utiliza dados relevantes e ainda não públicos sobre uma empresa para obter vantagem nas negociações de ações ou ativos relacionados. Trata-se de uma prática ilegal e antiética que fere os princípios da livre concorrência e prejudica a transparência do mercado de capitais.
Informações consideradas privilegiadas podem incluir:
-
Fusão ou aquisição iminente
-
Resultados financeiros ainda não divulgados
-
Emissão de ações ou dívida
-
Mudança significativa na estrutura de governança
-
Acordos comerciais estratégicos
O uso dessas informações por funcionários, conselheiros, analistas ou qualquer indivíduo com acesso antecipado é considerado crime em diversos países, incluindo o Reino Unido e o Brasil.
Consequências do uso de informação privilegiada
A prática de insider trading pode acarretar diversas consequências, entre elas:
-
Sanções penais: Prisão, como no caso dos irmãos Korfuzi;
-
Multas elevadas: Valores que ultrapassam os ganhos obtidos ilicitamente;
-
Perda da credibilidade profissional: Especialmente em áreas como finanças, auditoria e consultoria;
-
Proibição de atuar no mercado financeiro: Em muitos casos, os envolvidos são banidos de cargos que envolvam tomada de decisão ou acesso a dados sigilosos;
-
Danos à reputação da empresa: Mesmo quando a companhia não é diretamente envolvida, escândalos desse tipo podem manchar a imagem da instituição.
O que as empresas podem fazer para evitar casos assim?
O caso da Janus Henderson levanta a necessidade urgente de reforçar os mecanismos de compliance corporativo, especialmente em tempos de trabalho remoto. Algumas medidas eficazes incluem:
-
Treinamento contínuo sobre ética e conduta;
-
Monitoramento de atividades suspeitas em contas internas;
-
Restrição de acesso a informações sigilosas;
-
Investimentos em tecnologia de rastreamento de dados;
-
Criação de canais de denúncia eficazes e anônimos.
Além disso, a cultura organizacional deve promover a transparência e valorizar a integridade, não apenas como política, mas como prática cotidiana.
A importância da condenação para o mercado
Casos como o dos irmãos Korfuzi servem como alerta e como precedente para reforçar a importância da integridade no setor financeiro. O uso de informação privilegiada fragiliza o equilíbrio do mercado e coloca em desvantagem milhões de investidores que atuam de maneira honesta e ética.
A decisão do Tribunal da Coroa de Southwark representa não apenas justiça para este caso específico, mas também um sinal claro de que os órgãos reguladores estão atentos e dispostos a punir com rigor quem ultrapassa os limites da legalidade.
O caso dos irmãos Redinel e Oerta Korfuzi escancara como o uso de informação privilegiada ainda é uma ameaça concreta aos mercados financeiros modernos. A condenação representa um marco no combate ao insider trading e reforça a mensagem de que a ética deve prevalecer sobre a ambição desenfreada.
A lição é clara: em um mercado cada vez mais complexo e interconectado, não há espaço para manipulação ou abuso de posição privilegiada. A confiança no sistema depende da integridade de cada participante, do menor investidor ao mais alto executivo.