Donald Trump reacende tensão global com novas tarifas de importação dos EUA e mercado reage com instabilidade
O mercado financeiro global iniciou a semana em estado de alerta diante da ameaça do ex-presidente norte-americano Donald Trump de aplicar novas tarifas de importação a países que, segundo ele, “se alinharem às políticas antiamericanas do Brics”. A medida, ainda sem detalhes claros, reacende o temor de uma guerra comercial internacional, com potenciais impactos sobre inflação, juros e crescimento econômico.
A proposta de Trump, comunicada por meio de redes sociais, prevê um acréscimo tarifário de 10% sobre produtos de qualquer país que ele considere hostil à política externa e comercial dos Estados Unidos. A medida eleva o risco de deterioração do ambiente global de negócios e já se reflete nos principais indicadores financeiros. O dólar, por exemplo, acumulou alta de 0,36% na última sexta-feira, encerrando o dia cotado a R$ 5,4242. Já o Ibovespa, apesar da incerteza internacional, fechou com leve alta de 0,24%, atingindo os 141.264 pontos — um novo recorde histórico.
A nova ofensiva tarifária dos EUA
A declaração de Trump vem no mesmo momento em que o grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) divulgou a “Declaração do Rio de Janeiro”, reforçando o compromisso com o multilateralismo, o fortalecimento da ONU e o respeito ao direito internacional. Embora o texto não cite diretamente os EUA, o ex-presidente interpretou o posicionamento como uma afronta aos interesses norte-americanos.
A ameaça de tarifas de importação dos EUA foi recebida com cautela por parte das principais economias mundiais. China, Rússia e África do Sul reagiram prontamente, apontando que o Brics não possui caráter antiamericano, mas defende uma reformulação da ordem global. A retórica de Trump, no entanto, sinaliza uma postura protecionista agressiva que pode resultar em retaliações comerciais, ampliando os riscos de uma nova escalada de tensões internacionais.
Impactos no mercado global
A repercussão imediata das ameaças tarifárias se deu nos mercados asiáticos e europeus. Os principais índices acionários da China e de Hong Kong fecharam em queda, refletindo o receio de interrupções no fluxo de comércio com os EUA. Já o índice europeu Stoxx 600 operava de forma instável, diante da falta de clareza sobre os desdobramentos da política tarifária americana.
Nos Estados Unidos, os índices futuros das bolsas abriram em baixa, sinalizando que os investidores estão precificando um cenário de inflação pressionada e juros elevados por mais tempo. O Federal Reserve (Fed), que vinha sinalizando possibilidade de cortes nas taxas de juros ainda em 2025, pode ser forçado a adotar uma postura mais conservadora, caso o aumento nas tarifas de importação dos EUA se confirme e impacte o índice de preços ao consumidor.
Contagem regressiva para o tarifaço
Além do anúncio genérico das novas tarifas, Trump afirmou que os EUA devem enviar cartas formais aos países afetados ainda esta semana, com a lista de produtos que sofrerão a taxação. A medida está prevista para entrar em vigor a partir de 1º de agosto, dando um prazo de três semanas para que possíveis acordos bilaterais sejam firmados. Esse movimento reativa o chamado “tarifaço” lançado em abril, que havia sido suspenso temporariamente.
Poucos acordos foram firmados até agora. Reino Unido e Vietnã aparecem como exceções, mas a maioria dos países corre contra o tempo para evitar as sobretaxas, que podem variar entre 10% e 50%. União Europeia, Japão, Coreia do Sul, Índia, Suíça e Indonésia estão em tratativas com Washington, oferecendo concessões comerciais e investimentos em setores estratégicos, como energia, tecnologia e agricultura.
Efeitos das tarifas sobre inflação e juros
O aumento das tarifas de importação dos EUA tende a encarecer os produtos importados, elevando os preços ao consumidor e pressionando a inflação doméstica. Esse cenário desfavorável pode levar o Fed a adiar decisões de corte nos juros, prejudicando a recuperação econômica norte-americana. A manutenção de taxas elevadas por mais tempo, por sua vez, afeta os mercados emergentes, pois atrai capital para os títulos do Tesouro dos EUA, enfraquecendo moedas como o real.
Na semana passada, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que a autoridade monetária adotará uma postura de cautela. A expectativa é que o banco central aguarde os efeitos práticos das tarifas antes de qualquer mudança na política monetária. Com isso, os investidores aguardam com grande atenção a ata da última reunião do Fed, que pode trazer pistas sobre os próximos passos da instituição.
O cenário no Brasil
Enquanto o cenário externo se mostra conturbado, o mercado brasileiro também enfrenta incertezas internas. A principal delas é a suspensão dos decretos que regulamentam o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. A medida obriga uma audiência de conciliação entre o Executivo e o Congresso Nacional, o que pode afetar a arrecadação federal e os fluxos de capital estrangeiro.
Mesmo diante das turbulências, o Ibovespa encerrou a última sexta-feira com novo recorde, acumulando alta de 17,44% no ano. Já o dólar registra queda de 12,23% no acumulado de 2025, apesar da recente valorização semanal de 0,36%. Os dados mostram que o Brasil mantém uma resiliência relativa frente à volatilidade global, ainda que esteja exposto a oscilações nos juros dos EUA e nas dinâmicas comerciais internacionais.
Perspectivas para o comércio global
A possibilidade de um novo ciclo de tarifas de importação dos EUA amplia o risco de uma desaceleração do comércio internacional, com impactos diretos sobre o crescimento das economias desenvolvidas e emergentes. A fragmentação das cadeias globais de valor, somada ao aumento do protecionismo, pode gerar um ambiente de baixa previsibilidade para exportadores e investidores.
Analistas apontam que, caso as medidas tarifárias avancem sem articulação diplomática, o mundo poderá enfrentar uma nova rodada de conflitos comerciais semelhantes às observadas durante o governo Trump entre 2017 e 2020. À época, os embates com a China resultaram em prejuízos bilionários para empresas de ambos os lados e contribuíram para a instabilidade nos mercados globais.
O anúncio de novas tarifas de importação dos EUA recoloca o mundo em uma rota de tensão econômica e política. O mercado, ainda em busca de sinais concretos sobre o real impacto das medidas, oscila entre euforia e cautela. Com prazos curtos para negociações e ausência de detalhes técnicos por parte de Washington, investidores, governos e empresas devem se preparar para um cenário de incerteza crescente nas próximas semanas.