Minério de ferro recua em Dalian com apostas de queda na demanda da China
O minério de ferro registrou nova queda expressiva nas bolsas asiáticas nesta quinta-feira (16), refletindo o aumento das apostas de que a demanda chinesa continuará em desaceleração nas próximas semanas. O movimento ocorre em um contexto de incertezas sobre a recuperação do setor imobiliário da China, problemas no crédito e expectativas moderadas para o consumo de aço — fatores que pressionam o principal insumo da indústria siderúrgica mundial.
Na Bolsa de Dalian, o contrato mais negociado de janeiro encerrou o pregão com recuo de 0,89%, cotado a 773,5 iuanes por tonelada (cerca de US$ 108,56), após tocar o menor patamar em mais de seis semanas, de 766,5 iuanes, no início das negociações. O desempenho sinaliza o enfraquecimento da demanda, especialmente em um momento em que os estoques de aço tendem a aumentar e o ritmo de construção segue lento em várias regiões da China.
China e a desaceleração do setor siderúrgico
A China é responsável por mais de 70% da demanda global por minério de ferro, e qualquer sinal de fraqueza em seu setor de construção e siderurgia impacta diretamente os preços internacionais da commodity. Atualmente, a economia chinesa enfrenta uma combinação de fatores que reduzem o apetite por minério: crise no mercado imobiliário, queda nos novos empréstimos bancários e excesso de capacidade industrial.
Essas pressões têm limitado a retomada dos investimentos em infraestrutura e comprometido as margens das siderúrgicas locais, que seguem operando com cautela diante da menor demanda por aço. Analistas destacam que a expectativa de aumento nos estoques de produtos siderúrgicos nas próximas semanas pode agravar a retração nos preços do minério de ferro.
Dalian e Cingapura refletem o mesmo movimento
Na Bolsa de Cingapura, o contrato de referência para novembro acompanhou a tendência de Dalian e também registrou desvalorização, recuando 0,02%, para US$ 105,1 por tonelada. Apesar da queda moderada, o ativo chegou a tocar US$ 103,6 por tonelada no dia anterior, o menor nível em quase uma semana.
Os investidores observam atentamente as perspectivas de política monetária do Federal Reserve (Fed), já que novos cortes de juros nos Estados Unidos poderiam favorecer a liquidez global e limitar parte das perdas em commodities metálicas. No entanto, os fundamentos do mercado ainda são considerados frágeis, uma vez que a demanda física permanece enfraquecida na China.
Setor imobiliário chinês continua pressionando a demanda
O prolongado desaquecimento do setor imobiliário chinês é um dos principais motivos por trás da recente queda do minério de ferro. O volume de novos empréstimos bancários ficou abaixo do esperado em setembro, mostrando que os esforços das autoridades em estimular a economia ainda não se traduziram em crédito efetivo para empresas e consumidores.
Com a desaceleração das construções, a demanda por aço — e, consequentemente, por minério — tem diminuído. As siderúrgicas reduzem a produção e postergam compras de matéria-prima, contribuindo para a desvalorização dos contratos futuros.
Além disso, o excesso de capacidade nas indústrias pesadas reforça o quadro de cautela. Mesmo com algumas medidas de estímulo, a confiança empresarial ainda é limitada, e o setor imobiliário segue como um entrave central para a retomada sustentada do crescimento econômico chinês.
Guerra comercial entre EUA e China pesa sobre o sentimento
Outro fator de pressão sobre o minério de ferro vem das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. Apesar de alguns sinais de reaproximação diplomática, a recente imposição de taxas portuárias e medidas protecionistas reacendeu preocupações entre investidores. O aumento da incerteza tende a reduzir o apetite por risco e afetar as projeções de demanda global por aço.
As negociações entre as duas maiores economias do mundo seguem lentas, e o mercado de commodities permanece sensível a qualquer notícia relacionada às tarifas de importação e exportação de produtos industriais. Essa volatilidade faz com que o minério de ferro mantenha um comportamento instável, alternando momentos de recuperação pontual e quedas acentuadas conforme o humor dos investidores.
Perspectivas para o minério de ferro
Especialistas do mercado de metais acreditam que o minério de ferro deve permanecer sob pressão no curto prazo. As expectativas de aumento nos estoques de aço e a demanda fraca da China apontam para um cenário de preços mais baixos até o fim de 2025.
No entanto, há fatores que podem limitar uma queda mais acentuada:
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Políticas de estímulo do governo chinês, especialmente voltadas à infraestrutura e à habitação popular.
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Recuperação gradual do consumo industrial caso o crédito comece a reagir positivamente.
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Possíveis cortes de juros nos EUA, que podem impulsionar o apetite global por ativos de risco.
Mesmo assim, o mercado segue predominantemente defensivo, e a maioria dos analistas avalia que o preço do minério de ferro pode continuar oscilando entre US$ 100 e US$ 110 por tonelada, dependendo da intensidade das medidas de estímulo econômico adotadas por Pequim.
A influência do dólar e das políticas globais
Outro elemento relevante para o comportamento do minério de ferro é a valorização do dólar frente a outras moedas. Um dólar mais forte tende a tornar a commodity mais cara para compradores estrangeiros, reduzindo o volume de importações.
Por outro lado, a estabilidade cambial e a redução de juros internacionais podem favorecer o comércio global e estimular a recuperação dos preços. O equilíbrio entre esses fatores será decisivo para determinar a trajetória do minério nos próximos meses.
Análise técnica e comportamento do mercado
Do ponto de vista técnico, o minério de ferro em Dalian rompeu níveis de suporte importantes, o que reforça a tendência de baixa. A cotação abaixo de 780 iuanes indica que os investidores seguem céticos quanto à retomada da demanda chinesa no curto prazo.
Os gráficos mostram que, desde o início de setembro, o movimento é predominantemente de correção, após uma sequência de valorização no início do ano. A ausência de novos estímulos econômicos e a fraqueza dos indicadores de crédito reforçam a visão de que o mercado pode continuar pressionado.
Ainda assim, o interesse especulativo permanece ativo, especialmente entre traders que buscam oportunidades em períodos de volatilidade. A expectativa é que a oscilação de preços continue alta até que haja clareza sobre as medidas de recuperação da economia chinesa.
O recuo do minério de ferro em Dalian e Cingapura reflete um conjunto de fatores estruturais e conjunturais que afetam o coração da economia global. A fraqueza da demanda chinesa, o desaquecimento do setor imobiliário e as incertezas comerciais entre EUA e China compõem um cenário de volatilidade e cautela.
Enquanto o mercado monitora de perto as ações do governo chinês e as decisões do Federal Reserve, investidores e analistas mantêm uma postura de espera. Tudo indica que os preços do minério de ferro continuarão sob pressão no curto prazo, com recuperação possível apenas se houver estímulos econômicos mais agressivos e melhora efetiva na confiança empresarial.
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