‘Eu iria adverti-lo’, diz general sobre Cid na trama golpista

Trama golpista: generais negam conhecimento de plano no gabinete de Bolsonaro

Depoimentos de generais marcam avanço nas investigações da trama golpista ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro

O julgamento sobre a suposta trama golpista que teria sido articulada dentro do núcleo do então presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) segue avançando, com depoimentos de testemunhas sendo colhidos pela Justiça Federal. Nesta quinta-feira, 22 de maio, dois generais do Exército Brasileiro prestaram depoimento em defesa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente, e Walter Braga Netto, ambos implicados na investigação.

Os generais João Batista Bezerra Leonel Filho e Edson Diehl Ripoli foram convocados pela defesa dos acusados e negaram qualquer conhecimento ou envolvimento com atos de ruptura institucional ou golpe de Estado. As falas foram vistas como parte da estratégia jurídica para desassociar os réus da acusação central de envolvimento em uma suposta conspiração contra a democracia.


Quem são os generais que depuseram sobre a trama golpista

O general João Batista Bezerra Leonel Filho e o general Edson Diehl Ripoli atuaram durante anos nas Forças Armadas brasileiras e afirmaram não ter mantido relações próximas entre si durante o serviço militar. Apesar disso, ambos foram chamados pela defesa para abordar suas percepções sobre o comportamento e a conduta de Mauro Cid, figura central nas investigações da trama golpista.

Ripoli, especialmente, tem uma ligação pessoal com a família de Mauro Cid, remontando à década de 1990. O general, que ocupou o cargo de chefe de gabinete no Ministério da Defesa entre janeiro de 2019 e julho de 2020, relatou contatos frequentes com Cid no exercício do cargo, mas negou qualquer menção ou diálogo relacionado a plano de golpe durante esse período.


O papel de Mauro Cid nas investigações da trama golpista

Mauro Cid tornou-se figura-chave nas investigações federais após firmar um acordo de colaboração com as autoridades. Como ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Cid tinha acesso direto ao gabinete presidencial, sendo responsável por uma série de comunicações oficiais e pessoais do presidente.

A investigação da trama golpista visa apurar se, a partir desse gabinete, foram articuladas ações para impedir ou contestar os resultados eleitorais de 2022, que culminaram na vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cid, ao colaborar com as investigações, forneceu informações consideradas estratégicas pela Polícia Federal (PF) e pela Procuradoria-Geral da República (PGR).


Defesa tenta desassociar Mauro Cid de suposta trama golpista

Durante o depoimento dos generais, os advogados de defesa de Mauro Cid buscaram ressaltar aspectos positivos da trajetória do militar. Foi destacada a conduta respeitosa de Cid frente à hierarquia do Exército, além de sua reputação como profissional “exemplar”.

O general Ripoli declarou que, se soubesse de qualquer menção a um golpe de Estado por parte de Cid, teria advertido o então ajudante de ordens imediatamente. “Obviamente não seria o caso, a gente tem que ser leal à Constituição”, afirmou o general. “Cid nunca falou de golpe comigo”, completou.

Essa estratégia parece ter como objetivo central reforçar a tese de que Cid não teria envolvimento direto com a articulação de qualquer trama golpista, mesmo estando em posição privilegiada de acesso a Bolsonaro.


Visita de Ripoli a Cid durante prisão reforça vínculo pessoal

Outro ponto relevante levantado durante os depoimentos foi a visita realizada por Ripoli a Cid em 2023, enquanto este se encontrava preso em uma unidade do Exército. A visita não foi institucional, mas sim de caráter pessoal, o que reforça os laços de amizade entre as famílias.

Apesar dessa relação próxima, Ripoli insiste que nunca houve qualquer confissão ou menção sobre uma tentativa de ruptura institucional. Tal afirmação busca afastar a hipótese de que o general tenha tido ciência prévia de ações golpistas por parte de Cid ou de outros integrantes do alto escalão militar.


Importância dos depoimentos para o andamento do processo da trama golpista

A coleta de testemunhos no processo judicial é um dos pilares para que se estabeleça, com clareza, a existência ou não de um esquema organizado para fraudar ou interromper o processo democrático no Brasil. As falas dos generais, mesmo que favoráveis à defesa, serão confrontadas com outras evidências já obtidas, incluindo mensagens, áudios, e documentos que vêm sendo analisados pelas autoridades federais.

O depoimento de figuras de alto escalão como os generais João Batista e Edson Ripoli oferece contexto à linha de defesa, mas o foco das investigações ainda recai sobre a atuação de Mauro Cid, especialmente no período de transição entre os governos Bolsonaro e Lula.


O impacto político e institucional da trama golpista

A trama golpista investigada pelas autoridades brasileiras tem reflexos profundos no ambiente político nacional. Em um momento em que se discute o papel das Forças Armadas na política, a investigação pode redefinir limites e responsabilidades de oficiais militares no contexto institucional.

A própria imagem do Exército Brasileiro está em xeque, dado o envolvimento de figuras da ativa e da reserva em episódios politicamente sensíveis. As declarações dos generais nesta etapa do processo são também uma tentativa de blindar a instituição militar de responsabilidades diretas nas alegações feitas contra integrantes do governo anterior.


O que esperar dos próximos passos do julgamento da trama golpista

Com o avanço das oitivas e a análise dos dados obtidos por meio da colaboração de Mauro Cid, o processo que apura a trama golpista deverá seguir para etapas decisivas nos próximos meses. A Justiça Federal deverá ouvir outras testemunhas, avaliar provas técnicas e concluir se há base suficiente para uma condenação dos envolvidos.

Enquanto isso, a opinião pública acompanha com atenção o desdobramento do caso, que pode vir a se tornar um divisor de águas no entendimento da relação entre o poder Executivo e as instituições de defesa do Estado.


O desafio de provar a existência de uma trama golpista

Apesar dos elementos levantados até agora, o principal desafio das autoridades é construir uma narrativa sólida e juridicamente embasada de que houve, de fato, uma trama golpista com objetivo de romper com a ordem democrática. A defesa dos envolvidos trabalha para enfraquecer essa tese e apresentar os atos como interpretações equivocadas ou desvinculadas de intenções golpistas.

Enquanto os debates jurídicos se intensificam, a sociedade brasileira observa os movimentos do Judiciário, ciente da importância de que o caso seja tratado com o máximo rigor, transparência e base legal — sob pena de se abrir precedentes perigosos para o futuro da democracia no país.