Assassinato de delator em 2024 revelou que delegados, investigadores e PMs se uniram a integrantes das facções. Força-tarefa prendeu 33 suspeitos, três deles acusados pela morte. A execução a tiros de um empresário por criminosos encapuzados e armados com fuzis, em plena luz do dia, no setor de desembarque do maior aeroporto do país, no final do ano passado, escancarou o envolvimento de ao menos 27 policiais de São Paulo com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).
É o que aponta levantamento exclusivo do g1 com base nas investigações da Polícia Civil, Polícia Federal (PF) e Polícia Militar (PM) e a apuração do Ministério Público (MP) sobre o caso de Vinicius Gritzbach.
A reportagem consultou dezenas de policiais e autoridades e analisou centenas de páginas de documentos para montar um quadro inédito que mostra quem é cada um dos investigados e qual a relação deles com o caso e os seus desdobramentos.
👉 Especialistas avaliam que o cenário confirma o vínculo cada vez mais estreito entre agentes públicos de segurança e o crime organizado, evidenciando, segundo eles, o fracasso do estado. No caso do PCC, a sua atuação já assumiu até contornos de máfia (leia mais ao final).
Há suspeita até de que a facção tenha se infiltrado no futebol. Na semana passada, o nome de Gritzbach voltou aos noticiários porque uma investigação apontou que parte do dinheiro do contrato de patrocínio do Corinthians foi parar em uma empresa ligada ao PCC e que tinha sido citada na sua delação.
No total, pelo menos 41 pessoas são investigadas por suspeita de terem alguma ligação com o assassinato de Gritzbach ou outros crimes descobertos após a morte dele.
Dessas, 33 estão presas, sendo 26 policiais, por diferentes crimes, como homicídio e corrupção. Quatro estão foragidas da Justiça e outras quatro, incluindo um policial, respondem em liberdade.
Mais nomes estão na mira da polícia, mas, como ainda não foram responsabilizados, não aparecem neste levantamento.
Caso Gritzbach em números
Arte/g1
Quem era Gritzbach?
Vinicius Gritzbach era um empresário do ramo imobiliário que enriqueceu lavando dinheiro do tráfico de drogas do PCC e do CV por meio da compra de imóveis e criptomoedas. Em uma delação premiada à Justiça, ele entregou o esquema e acusou policiais de corrupção.
Acabou executado em 8 de novembro de 2024 em uma emboscada no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na região metropolitana. Câmeras de segurança gravaram o crime (veja mais abaixo).
Para a Polícia Civil, o homicídio está esclarecido: a morte foi a mando de criminosos ligados ao PCC e ao CV e teve a participação de policiais militares. Outros PMs que faziam a escolta particular dele são suspeitos de terem relaxado a segurança e contribuído com o grupo.
Além da sua delação, o motivo foi, segundo a investigação, para vingar as mortes de dois integrantes do PCC que ele teria encomendado. Também pesou um desfalque financeiro nas operações dos criminosos.
Força-tarefa
A partir da morte de Gritzbach, foi montada uma força-tarefa em três frentes: a Polícia Civil investiga o assassinato; a Polícia Federal apura a denúncia de corrupção policial; e a Polícia Militar averigua a atuação irregular de agentes na escolta do delator.
Desde então, diversas operações têm sido conduzidas e prisões, realizadas, mas quase sempre com poucas informações divulgadas sob o argumento de que é necessário resguardar o andamento da apuração.
🧩 Pela primeira vez, foram reunidos todos os nomes para ajudar a montar esse quebra-cabeça. Confira abaixo o estágio de cada eixo até o momento.
1 – Polícia Civil apura a morte de Gritzbach
A Polícia Civil, por meio do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), apura quem atirou e quem mandou matar Gritzbach. No ataque a ele no aeroporto, outras três pessoas que não tinham nada a ver com o caso foram baleadas – uma delas morreu.
Vídeos mostram por diferentes ângulos execução de Gritzbach no aeroporto de Guarulhos
Mandantes:
A polícia identificou os mandantes como: Emilio Carlos Gongorra Castilho, o “Cigarreira” (traficante com ligação com o CV e o PCC), e o comparsa Diego dos Santos Amaral, o “Didi” (ligado ao PCC).
Gritzbach teria desviado R$ 100 milhões em moedas digitais de um membro do PCC e sumido com outros R$ 4 milhões de “Cigarreira”.
“Cigarreira” e “Didi” estão foragidos. Existe a suspeita de que estejam escondidos no Complexo da Penha, comunidade do Rio de Janeiro controlada pelo CV, com o apoio de criminosos da facção.
Veja quem é alvo da Polícia Civil na morte de Gritzbach
Arte/g1
Atiradores e ‘olheiro’:
A investigação aponta que quatro pessoas participaram diretamente da execução do homicídio: três policiais militares (o cabo Denis Antonio Martins e o soldado Ruan Silva Rodrigues foram os atiradores; o tenente Fernando Genauro da Silva dirigia o carro usado na fuga) e um “olheiro” (Kauê do Amaral Coelho, o “Jubi’) os avisou quando Gritzbach desembarcou.
Os PMs estão presos e o comparsa, foragido. Kauê estaria escondido no Complexo da Penha.
Segundo o Instituto de Criminalística, parte da munição usada para matar Gritzbach foi encontrada abandonada e descobriu-se depois que pertencia à Polícia Militar. Ela tinha sido desviada ilegalmente da corporação.
Colaboradores:
Outros cinco são investigados sob suspeita de terem ajudado de algum modo no crime.
São eles: a modelo Jackeline Leite Moreira, namorada de Kauê; Matheus Augusto de Castro Mota (suspeito de emprestar o carro usado na fuga), os irmãos Matheus Soares Brito e Marcos Henrique Soares Brito (suspeitos de ajudar na fuga de Kauê), e Tiago da Silva Ramos, o “Bob” (que ajudou Kauê a fugir ao levá-lo de carro ao Rio).
Os quatro primeiros estão presos. Tiago responde em liberdade.
Conclusão da investigação do assassinato:
O DHPP concluiu o inquérito e indiciou seis suspeitos. O MP de Guarulhos apresentou denúncia contra “Cigarreira”, “Didi” e Kauê, além dos PMs Denis, Ruan e Fernando, que foi aceita pela Justiça, tornando-os réus.
Os demais continuam sendo investigados por organização criminosa em outro inquérito. Parte deles foi indiciada. Um terceiro inquérito apura se mais gente está envolvida no homicídio, incluindo policiais.
2 – PF apura denúncia de corrupção policial
A Polícia Federal apura a denúncia de corrupção feita por Gritzbach contra policiais civis. Segundo ele, agentes extorquiram dinheiro e bens dele, de criminosos ligados ao PCC e CV e de comerciantes no Centro de São Paulo. Em seguida, lavaram o dinheiro comprando bens.
Em uma das acusações, Gritzbach disse que policiais pediram mais de R$ 40 milhões para não incriminá-lo como mandante das mortes de dois membros do PCC.
Nesse processo da PF, 15 pessoas são investigadas – incluindo nove policiais.
Em setembro de 2024, a polícia havia prendido dois policiais denunciados por ele: o agente Valdenir Paulo de Almeida, o “Xixo”;e Valmir Pinheiro, o “Bolsonaro”.
Após a morte do empresário, foram presos mais seis policiais: o delegado Fabio Baena Martins e os investigadores Cyllas Salerno Elia Júnior; Eduardo Lopes Monteiro; Marcelo Roberto Ruggieri, o “Xará”; Marcelo Marques de Souza, o “Bombom”; e Rogério de Almeida Felício, o “Rogerinho”.
O delegado Alberto Pereira Matheus Júnior também é investigado, mas responde em liberdade.
Além deles, estão detidos: o advogado Ahmed Hassan Saleh, o “Mude”, suspeito de cooptar policiais para criminosos; e os empresários Ademir Pereira de Andrade e Robinson Granger de Moura, o “Molly”, suspeitos de lavagem e envolvimento com o PCC.
Danielle Bezerra dos Santos, empresária e esposa do policial “Rogerinho”, também é investigada. A Justiça decretou a sua prisão, mas ela está foragida.
Veja quem é alvo da PF acusado de corrupção por Gritzbach
Arte/g1
Após denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, a Justiça tornou quase todos os investigados réus por organização criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. O MP pediu ainda que paguem juntos R$ 40 milhões aos cofres públicos.
O policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, que é sócio da da 2GO Bank, é investigado por corrupção policial. Ele foi denunciado por lavagem de dinheiro para o PCC e está preso.
Os empresários Carlos Alexandre Ballotin e Marcelo Henrique Antunes da Palma, fundadores da Invbank, também foram acusados pelo mesmo crime, mas respondem em liberdade.
Numa das denúncias do Ministério Público, os promotores citam o uso ilegítimo de um órgão do Estado que deveria zelar pela segurança pública.
“O que aqui se tem é o uso espúrio de um órgão de Estado destinado à tutela da segurança pública, a Polícia Civil, por ocupantes de relevantes postos – seja de delegado, seja de investigador – que se aliam a particulares que enriqueceram com os frutos do crime”, informa o MP.
No documento, há um relatório da Polícia Federal que chega a usar a expressão “relação simbiótica” (íntima) para se referir à atuação dos agentes públicos e o crime organizado e diz que há uma “inversão de valores”.
Trata-se de um condensado de eventos absolutamente reprováveis, sobretudo os que versam sobre policiais corruptos, na medida em que se traduzem na inversão de valores daqueles que deveriam combater a criminalidade e não se valer dela para enriquecer ilicitamente.
3 – Polícia Militar apura escolta irregular por PMs
A Polícia Militar apura a participação ilegal de agentes na segurança privada de Gritzbach. Também investiga se eles passavam ou vendiam informações de operações policiais para as facções e se colaboraram com o grupo que matou o empresário ao afrouxar a escolta dele.
A corporação proíbe o “bico” de segurança particular, principalmente de alguém como Gritzbach, que notoriamente tinha envolvimento com o crime organizado. Quem descumpre a regra comete um crime militar e está sujeito a punições administrativas.
A Corregedoria da Polícia Militar já prendeu 15 PMs da equipe de segurança do empresário. Eles foram denunciados pelo Ministério Público por crimes como organização criminosa armada e falsidade ideológica.
Outros três policiais miliares, os que respondem pela morte de Gritzbach no inquérito civil, estão presos e foram acusados pelo MP, mas por organização para a prática de violência armada no inquérito da PM.
Veja quem é alvo da PM acusado de fazer escolta para Gritzbach
Arte/g1
O que dizem especialistas
Ao g1, o promotor Lincoln Gakiya, que atua pelo Gaeco do MP e há décadas pesquisa a atuação do Primeiro Comando da Capital, disse que o caso Gritzbach só comprova o que tem sido constatado nas investigações e operações: a ligação muito próxima de agentes públicos de segurança com o PCC e o CV.
Não é que ele [Gritzbach] revelou, ele comprovou! A gente já sabia de movimento de policiais, a recolha [do dinheiro de propinas], mas, entre saber e conseguir provas, aí já é um outro caminho. Então, o que ele trouxe foi provas. A delação dele foi importante.
Lincoln explica que a existência dessas organizações criminosas depende, além de ter domínio territorial, da participação de integrantes do estado, principalmente daquela que está em contato direto -que geralmente é a polícia. “Então, já faz parte da própria existência da organização corromper alguns policiais em departamentos-chave”, afirma.
De acordo com Lincoln, o papel dos policiais junto aos criminosos ligados ao PCC e CV era dar proteção às facções. “Fazer vistas grossa, avisar de operações”, explica.
Segundo o Ministério Público, o envolvimento de policiais com facções como PCC só a fortaleceram a ponto de fazer com que assumisse contornos de máfia.
O PCC se transformou na primeira ‘orcrim’ [organização criminosa] mafiosa brasileira e, assim como em outras máfias, além da indispensável dominação territorial, elas se infiltram nos poderes do Estado, contando cada vez mais com a corrupção de agentes do Estado em todos os níveis para atingir seus objetivos.
Para o coronel Adilson Paes de Souza, pesquisador em segurança pública, o cenário descortinado pelo caso Gritzbach comprova a falência do sistema.
“Nós temos forças de segurança avessas ao controle social, o que cria o ambiente propício para essa relação de agentes públicos de segurança com o crime organizado”, diz o especialista, que tem pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP) sobre o tema.
Na avaliação de Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz, trata-se do caso mais grave envolvendo policiais em São Paulo desde a Favela Naval (imagens exibidas pelo Jornal Nacional em 1997 mostraram PMs agredindo moradores em uma favela de Diadema).
Ele ressalta, porém, que, neste caso atual, há um agravante ainda mais preocupante: o vínculo estreito entre policiais e o crime organizado. Mesmo assim e diante de toda a repercussão, “não houve, até agora, impactos estruturais na polícia paulista à altura da gravidade desse escândalo”.
Policiais da ativa, treinados e pagos com dinheiro público, executaram um crime de pistolagem de extrema ousadia, em um local de grande circulação, vitimando não apenas um ex-integrante do PCC, mas também o motorista [de aplicativo] que perdeu a vida, e com o agravante de uso de munição da PM.
O advogado Carlos César Marera, membro da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP), também vê a situação com muita preocupação.
“Temos agentes da área de segurança pública, que têm o dever de proteger a sociedade, passando para o outro lado, que é o lado da criminalidade”, afirmou.
O que dizem a SSP e os citados:
➡️ Sobre os policiais militares e civis envolvidos no caso Gritzbach e seus desdobramentos, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) divulgou uma nota em que informa não compactuar com desvios de conduta e ressalta a atuação da corregedoria.
Abaixo, leia a íntegra da nota da pasta:
“As forças de segurança do Estado são instituições legalistas que não compactuam com desvios de conduta. Dessa forma, mantém corregedorias bem estruturadas e atuantes para registrar e apurar qualquer denúncia de envolvimento de agentes com atividades ilícitas. No caso do crime citado, por exemplo, 17 policiais militares foram identificados e presos por conta da atuação da Corregedoria da instituição. Já as investigações sobre o homicídio ocorrido em 8 de novembro de 2024, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, seguem em andamento pela Força-Tarefa criada para esclarecer o caso. Diligências continuam com o objetivo de identificar e prender todos os envolvidos”, informa o comunicado da Secretaria da Segurança.
➡️ O escritório Bialski Advogados Associados, que faz a defesa do delegado Baena e do investigador Eduardo, disse que a denúncia não tem “qualquer elemento sério a respaldá-la”. Veja a nota abaixo:
“Com muita indignação, mas sem surpresa, a defesa do dr. Fábio Baena Martin e do investigador Eduardo Monteiro recebeu a informação pela imprensa que o Ministério Público apresentou denúncia. E vista, como já era de esperar, é recheada de ilações, sem qualquer elemento sério a respaldá-la. É inadmissível estar ancorada nas elocubrações do mitômano e criminoso confesso, Vinícius Gritzbach. Aguarda-se que agora a Justiça analise e decida de forma adequada e isenta os pedidos da defesa, fazendo cessar a injusta coação imposta aos nossos clientes.”
➡️ O advogado Mauro Ribas Júnior, que defende os PMs Ruan, Denis e Fernando, apontados como executores de Gritzbach, também foi procurado e alegou que seus clientes são inocentes.
“A defesa do cabo Denis, soldado Ruan e sargento Genauro mantém o posicionamento de que eles não estiveram no aeroporto de Guarulhos, eles não conheciam Vinicius Gritzbach, eles não têm contato nenhum com Vinicius Gritzbach, e não estiveram no dia 8 de novembro no aeroporto de Guarulhos. Com relação à prova, DNA ou qualquer questão, a defesa vai apresentar contraprova em plenário e mostrar que essa conclusão do laudo, ela está errada. Pois esses materiais nunca estiveram em contato com o Denis ou com o Ruan”, disse Mauro Ribas Júnior.
➡️ Os demais citados ou suas defesas não foram localizados pelo g1. O espaço está aberto para que se manifestem. Em outras ocasiões, as defesas sempre negaram o envolvimento de seus clientes com o caso Gritzbach.
Mentiroso, mauricinho e psicopata: o que dizem os policiais civis presos sobre Vinícius Gritzbach
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