Minério de ferro em alta: guerra comercial entre China e EUA impulsiona expectativa por estímulos em Pequim
A cotação do minério de ferro voltou a subir, impulsionada pela crescente tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo — China e Estados Unidos. O avanço nas tarifas aplicadas por ambos os países não apenas agitou os mercados globais, mas também reacendeu as especulações sobre possíveis medidas de estímulo por parte do governo chinês, o que vem impactando diretamente os preços da principal commodity mineral do mundo.
O minério de ferro é um dos pilares da economia chinesa, servindo como matéria-prima essencial para a produção de aço. Com as recentes retaliações tarifárias, analistas passaram a prever que o governo de Pequim poderá adotar políticas macroeconômicas mais agressivas para neutralizar os impactos das tarifas americanas, movimentando diretamente o mercado internacional da commodity.
Escalada tarifária entre EUA e China aquece os mercados
Na quarta-feira, a China reagiu à ofensiva tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevando suas tarifas sobre produtos norte-americanos de 34% para 84%. Em resposta, Trump não hesitou: anunciou um novo aumento de tarifas para 104%, e em seguida ampliou para 125%. Essa guerra de tarifas trouxe instabilidade, mas também expectativa: o mercado passou a apostar que Pequim responderá com pacotes robustos de estímulo fiscal e monetário.
Essas tensões refletiram diretamente na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE), onde o contrato de setembro do minério de ferro, o mais negociado, registrou alta de 3,06%, fechando o dia em 707 iuanes por tonelada (cerca de US$ 96,30). A reação positiva vem após o ativo atingir sua mínima de seis meses no pregão anterior, demonstrando forte resiliência diante das incertezas econômicas.
Mercado de Cingapura também reage à volatilidade
Enquanto a DCE mostrava recuperação, o contrato de referência do minério de ferro na Bolsa de Cingapura para maio também fechou em alta de 1,76%, alcançando US$ 96,45 por tonelada. Durante a sessão, o preço chegou a atingir uma máxima intradiária de US$ 99,5, indicando otimismo dos investidores diante da possível intervenção do governo chinês para estimular sua economia.
Expectativa por estímulos aquece os preços do minério de ferro
Especialistas do ING afirmam que “a perspectiva de uma guerra comercial prolongada também aumentou as expectativas de que Pequim revele medidas de estímulo mais agressivas”. O mercado vê com bons olhos qualquer ação que possa manter o ritmo de crescimento da China e preservar sua demanda por insumos industriais, especialmente o minério de ferro.
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, reforçou essa visão ao declarar que o país precisa implementar políticas macroeconômicas proativas com urgência, especialmente diante de “choques externos” que desafiam a estabilização da economia. Essa postura fortalece a visão de que novos estímulos podem ser anunciados em breve.
China sinaliza com pausa nas retaliações comerciais
Surpreendendo o mercado, Donald Trump anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas adicionais para os parceiros comerciais que não retaliaram os Estados Unidos. A medida teve efeito imediato no sentimento do mercado, elevando os preços dos metais e promovendo certo alívio temporário nas bolsas asiáticas e americanas.
Ainda assim, o clima é de cautela. A trégua pode não durar, e o mercado de minério de ferro permanece sensível a qualquer nova movimentação no tabuleiro geopolítico entre os dois países.
Exportações de aço: um termômetro da pressão internacional
Apesar do cenário turbulento, as exportações de aço da China atingiram o maior volume dos últimos nove anos em 2024: 110,72 milhões de toneladas. No entanto, analistas como Chen Kexin, da consultoria Lange Steel, alertam para uma possível queda abaixo dos 70 milhões de toneladas ao longo do ano. A intensificação das tensões comerciais poderá ter impacto direto nesse volume, embora os efeitos mais significativos devam ser sentidos apenas no segundo semestre, por conta dos embarques antecipados realizados nos primeiros meses do ano.
Esse fator se conecta diretamente com a demanda por minério de ferro, já que uma eventual queda na exportação de aço poderia diminuir o consumo da commodity nas siderúrgicas chinesas. No entanto, as expectativas de estímulos governamentais e projetos de infraestrutura continuam a sustentar a demanda no curto e médio prazo.
Perspectivas futuras para o minério de ferro
Os próximos meses serão decisivos para o mercado de minério de ferro. Caso a China realmente implemente pacotes de estímulo, é provável que o consumo interno de aço se mantenha aquecido, puxando a demanda pela commodity. Além disso, obras de infraestrutura, urbanização e construção civil seguem como grandes vetores de crescimento para o país.
Já no cenário internacional, uma eventual desaceleração da guerra comercial ou a formação de novos acordos podem trazer estabilidade aos mercados e manter o minério de ferro em níveis sustentáveis de preço.
Minério de ferro segue como protagonista em tempos de crise
O minério de ferro não é apenas um insumo industrial — é um termômetro do equilíbrio (ou desequilíbrio) da economia global. A guerra comercial entre China e EUA, embora traga incertezas, também revela como commodities estratégicas podem ser impulsionadas por estímulos governamentais e por movimentos geopolíticos. Enquanto o cenário não se define, o minério de ferro continua a mostrar resiliência e importância global, sendo peça-chave na engrenagem do comércio internacional.