BYD busca redução de tarifa de importação de carros elétricos e desafia política industrial brasileira

BYD busca redução de tarifa de importação de carros elétricos e desafia política industrial brasileira

Montadora chinesa movimenta bastidores em Brasília com três pedidos formais de corte tarifário sobre CKDs e SKDs de veículos eletrificados; setor automotivo brasileiro reage

São Paulo – abril de 2025 – A gigante chinesa BYD, especializada em veículos eletrificados, deu um passo estratégico no mercado brasileiro ao apresentar três pedidos formais ao governo federal visando a redução de tarifa de importação de carros elétricos e picapes híbridas plugin, parcialmente desmontados. As solicitações, feitas entre fevereiro e março deste ano, estão em análise no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e geram intenso debate entre montadoras e representantes do setor automotivo nacional.

Em tempos de transição energética e avanços tecnológicos no setor automotivo, a entrada de veículos elétricos no Brasil ganha novo capítulo com os movimentos da BYD, que aposta na importação facilitada para ampliar sua presença no país.


O que está em jogo: desoneração de CKDs e SKDs

A BYD protocolou três requerimentos para reduzir de 35% para 10% a tarifa de importação de CKDs (completely knocked-down) e SKDs (semi knocked-down) — kits de peças de veículos produzidas no exterior que, posteriormente, são montadas no Brasil. Os pedidos abrangem automóveis e picapes híbridas plugin semidesmontados.

Segundo dados do MDIC, os dois primeiros pedidos foram submetidos em 25 de fevereiro de 2025 e envolvem:

  1. Automóvel semidesmontado com consumo energético inferior a 0,66 megajoule por quilômetro.

  2. Automóvel híbrido plugin com autonomia mínima de 250 quilômetros.

O terceiro pleito foi registrado em 17 de março e diz respeito à importação de picape híbrida plugin, com cabine dupla, capacidade de carga abaixo de 5 toneladas e também em formato semidesmontado.

Todas as solicitações solicitam que a alíquota de importação seja reduzida de 35% para 10%, o que pode representar um impacto substancial no preço final dos veículos comercializados pela montadora no Brasil.


Consulta pública e trâmites burocráticos

Os três pedidos da BYD estão em consulta pública, mecanismo adotado pelo governo para ouvir representantes da sociedade civil e do setor industrial. O prazo para manifestações varia de acordo com a data de entrada de cada pedido:

  • Os dois primeiros pedidos ficam abertos para consulta até 11 de abril de 2025.

  • O terceiro pedido, relativo à picape híbrida, está em consulta até 1º de maio de 2025.

Após o encerramento do período de consulta, os processos seguem para análise da Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), responsável por deliberar sobre o ajuste ou manutenção da política tarifária brasileira.


Reação da indústria nacional

A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), que representa as montadoras instaladas no Brasil, posicionou-se contra os pedidos de redução de tarifa de importação de carros elétricos feitos por grupos chineses.

Embora não tenha mencionado nomes publicamente, a Anfavea defende que a medida compromete a política de industrialização local e pode colocar em risco investimentos já realizados no país por fabricantes que apostaram na produção nacional de veículos eletrificados.

A entidade argumenta que a política atual de tarifas elevadas sobre CKDs e SKDs visa incentivar a nacionalização de componentes, além de preservar empregos e a cadeia produtiva brasileira.


Estratégia da BYD: escala global e produção local

Apesar da resistência da indústria nacional, a BYD segue expandindo sua presença global com forte aposta no Brasil. A empresa já anunciou investimentos na construção de fábricas locais e lançou no final de 2024 a Shark, picape híbrida plugin voltada para o mercado brasileiro e latino-americano.

A tática de pedir redução tarifária sobre veículos parcialmente desmontados pode estar alinhada com uma transição estratégica, permitindo à montadora ganhar tempo e reduzir custos enquanto consolida sua operação fabril no Brasil.


Impacto no consumidor e na concorrência

Caso a redução de tarifa seja aprovada, o consumidor brasileiro poderá se beneficiar de preços mais acessíveis para carros e picapes híbridas ou elétricas da BYD. Isso pressionaria outras montadoras a reverem suas estratégias de precificação e inovação, possivelmente acelerando o processo de eletrificação do mercado automotivo nacional.

No entanto, o movimento também pode provocar desigualdade competitiva, especialmente para marcas que ainda não contam com as mesmas vantagens logísticas e de escala que a BYD possui na China.


Caminho da eletrificação no Brasil

O debate sobre as tarifas de importação ocorre num momento em que o Brasil tenta equilibrar a necessidade de transição energética com a proteção da indústria local. O governo tem sido pressionado por ambos os lados: de um lado, empresas como a BYD que querem expandir rapidamente e exigem facilidades tarifárias; do outro, as montadoras tradicionais que cobram incentivos para nacionalização da produção de veículos elétricos e híbridos.

Analistas avaliam que o resultado dos pedidos da BYD pode definir os rumos da política automotiva brasileira para os próximos anos, especialmente diante do avanço da eletrificação nos mercados internacionais.


O papel da Camex e o futuro da decisão

A Secretaria Executiva da Camex terá papel fundamental ao decidir sobre os pedidos da BYD. A entidade, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, deve considerar aspectos técnicos, econômicos e sociais antes de liberar qualquer redução de tarifa de importação de carros elétricos.

Caso os pedidos sejam deferidos, outras montadoras — especialmente asiáticas — podem seguir o mesmo caminho, o que alteraria significativamente o panorama tarifário e competitivo do setor automotivo nacional.


A BYD e o reposicionamento no Brasil

A montadora chinesa se consolidou como um dos principais players globais em mobilidade elétrica, com presença em mais de 70 países. A ofensiva no Brasil visa ampliar sua influência na América Latina, aproveitando a crescente demanda por veículos com menor emissão de carbono e o potencial do mercado brasileiro.

Além da Shark, a BYD também comercializa modelos como o Dolphin, Seal e Han, todos 100% elétricos, e demonstra intenção de diversificar sua linha com SUVs e caminhonetes.

Tarifa, tecnologia e o futuro da mobilidade

O embate envolvendo a redução de tarifa de importação de carros elétricos é, acima de tudo, um reflexo das transformações globais no setor automotivo. Enquanto a eletrificação se torna uma realidade inevitável, países como o Brasil enfrentam o desafio de construir políticas que equilibrem competitividade, inovação e industrialização.

A decisão sobre os pleitos da BYD pode ser um divisor de águas. Se aprovada, pode acelerar a transição para veículos menos poluentes, mas também exigirá repensar o papel do parque industrial brasileiro nesse novo cenário.