Americanas inicia ação indenizatória por fraude bilionária de R$ 25 bilhões

Fraude Contábil da Americanas: Entenda o Processo Arbitral Contra Ex-Diretores

A Americanas S.A., uma das maiores varejistas do Brasil, iniciou um processo arbitral contra quatro ex-diretores acusados de participação na fraude contábil que levou a empresa a uma crise financeira severa e culminou em sua recuperação judicial em 2023. O objetivo da companhia é responsabilizar civilmente os executivos pelos danos causados, estimados em mais de R$ 25 bilhões.

Este episódio marcou um dos maiores escândalos financeiros do país, resultando na desvalorização das ações da empresa (AMER3) e na intervenção de órgãos reguladores como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Polícia Federal. Agora, com a abertura da arbitragem pela Câmara de Arbitragem do Mercado da B3, a Americanas busca reaver os prejuízos e reforçar sua transparência perante o mercado.

Abertura do Processo Arbitral

A decisão de iniciar a arbitragem foi aprovada pelos acionistas em uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE), realizada em dezembro de 2024. O procedimento tem como foco os ex-executivos Miguel Gutierrez, Anna Saicali, Thimoteo Barros e Márcio Cruz, que teriam participado ativamente das fraudes contábeis que mascararam a real situação financeira da empresa.

De acordo com as investigações, esses ex-diretores foram responsáveis por alterar demonstrações financeiras, lançar valores indevidos na conta de fornecedores e utilizar contratos falsos de verbas de propaganda cooperada (VPC), além de recorrer a operações financeiras fraudulentas, como o chamado risco sacado.

Em comunicado oficial, a Americanas reafirmou seu compromisso em esclarecer os fatos e garantir que todos os envolvidos sejam civil e criminalmente responsabilizados.

Ex-Diretor se Defende e Contra-Ataca

Um dos acusados no processo, Thimoteo Barros, contestou as acusações e afirmou que utilizará a arbitragem para apresentar sua versão dos fatos. Segundo seu advogado, Antonio Sergio Pitombo, Barros alega que a empresa foi “usada para satisfazer interesses espúrios de poucos”.

Além de Barros, o processo arbitral também inclui os ex-diretores Miguel Gutierrez, Anna Saicali e Márcio Cruz, todos afastados da companhia entre 2022 e 2023, à medida que as fraudes foram sendo descobertas.

Americanas Busca Reembolso de Despesas

A varejista não apenas quer responsabilizar os antigos gestores, mas também pretende recuperar os altos custos envolvidos na arbitragem. Após a revelação das irregularidades financeiras, a Americanas formou um comitê de investigação independente, que confirmou a fraude contábil e demonstrou que as demonstrações financeiras foram manipuladas para ocultar problemas da administração e do mercado.

Entre as medidas adotadas pela empresa após a descoberta do esquema, destaca-se a notificação ao Ministério Público Federal (MPF), à Polícia Federal (PF) e à CVM, órgãos responsáveis pela condução das investigações e pela aplicação de penalidades cabíveis.

Prisões e Operação da Polícia Federal

Diante da gravidade das fraudes, a Polícia Federal deflagrou a Operação Disclosure em junho de 2023, que resultou na prisão de Miguel Gutierrez e Anna Saicali. Ambos estavam no exterior e foram detidos após investigações apontarem envolvimento direto na fraude.

A operação também incluiu o sequestro de bens e valores superiores a meio bilhão de reais, pertencentes aos ex-executivos acusados.

Impacto da Fraude Contábil e Recuperação Judicial

O escândalo da fraude contábil Americanas gerou uma das maiores crises do varejo brasileiro, levando a empresa a um processo de recuperação judicial. Com isso, credores e fornecedores foram impactados diretamente, enquanto acionistas viram o valor das ações despencar.

Como parte da reestruturação, foi aprovado um aumento de capital, tornando os bancos credores acionistas da companhia. O trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que já controlava a Americanas, passou a deter 50,01% das ações.

Mesmo após a prisão de alguns envolvidos, as investigações continuam, e a empresa precisou adotar medidas emergenciais para recuperar sua credibilidade e garantir a transparência na gestão.

O Futuro da Americanas

O caso da fraude contábil Americanas ainda deve se estender por anos nos tribunais e em processos arbitrais. No entanto, a varejista já demonstra esforços para reerguer sua imagem no mercado.

A expectativa é que a arbitragem na Câmara de Arbitragem do Mercado da B3 defina responsabilidades financeiras e legais dos ex-diretores, ajudando a empresa a recuperar parte do prejuízo bilionário causado pelas irregularidades contábeis.