Inadimplência das empresas em 2025: Cenário, impactos e perspectivas
A inadimplência das empresas segue em patamares elevados no início de 2025, refletindo os desafios econômicos e as mudanças na política monetária do país. De acordo com o primeiro relatório do ano do Índice Multiplike de Devedores (IMD), a taxa de inadimplência empresarial foi registrada em 11,27% em janeiro, consolidando uma tendência de dificuldades para o setor corporativo.
Inadimplência empresarial e a influência da taxa Selic
O histórico da inadimplência empresarial demonstra uma relação direta com a taxa Selic. Em 2023, quando os juros permaneceram elevados por um longo período, a inadimplência atingiu uma taxa média de 13,42%. Já em 2024, com a redução da Selic, essa taxa recuou para uma média de 11,23%, refletindo um ambiente de menor pressão sobre as finanças corporativas.
No entanto, em dezembro de 2024, um aumento de 1% nos juros sinalizou o início de um novo ciclo de aperto monetário. Com a Selic projetada para ultrapassar os atuais 13,25% ao longo de 2025, os impactos já começam a ser sentidos no mercado. Segundo Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, “os reflexos dessa alta já estão evidentes em vários indicadores econômicos, incluindo a capacidade das empresas de honrarem seus compromissos financeiros”.
Faixas de vencimento da inadimplência empresarial
O Índice Multiplike de Devedores também permite uma análise detalhada sobre os prazos de inadimplência. Das seis faixas de vencimento monitoradas, quatro apresentaram crescimento em janeiro de 2025. A maior alta ocorreu nos débitos vencidos há mais de 360 dias, que saltaram de 17,37% em dezembro para 19,84% no início do ano.
Por outro lado, a categoria de vencidos até 30 dias teve uma queda significativa, passando de 43,78% em dezembro para 38,62% em janeiro. As demais faixas somaram 41,55% do total. Esse comportamento sugere que, enquanto algumas empresas conseguem regularizar suas pendências em curto prazo, aquelas com atrasos mais longos enfrentam dificuldades cada vez maiores para renegociação e liquidação das dívidas.
Impacto nos FIDCs e no mercado de crédito
Outro reflexo da inadimplência corporativa pode ser observado no mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). Em janeiro de 2025, o patrimônio líquido dos FIDCs multicedente/multissacado atingiu R$ 57,6 bilhões, de acordo com um levantamento que considerou uma amostra de 356 fundos. Desses valores:
- R$ 55,09 bilhões estavam lastreados em direitos creditórios, representando a maior parte dos ativos;
- R$ 6,2 bilhões correspondiam a recebíveis não liquidados na data originalmente prevista.
O aumento dos atrasos e a inadimplência das empresas impactam diretamente esse segmento, elevando o risco dos investimentos e levando os gestores de fundos a adotarem critérios mais rigorosos para concessão de crédito.
Perspectivas para 2025
Com a Selic em tendência de alta e um cenário econômico desafiador, espera-se que a inadimplência das empresas continue sendo um fator de preocupação para o setor financeiro. Algumas estratégias que podem mitigar esses efeitos incluem:
- Renegociação de dívidas: empresas devem buscar acordos com credores para evitar que a inadimplência comprometa suas operações.
- Planejamento financeiro mais sólido: revisão do fluxo de caixa e redução de custos podem auxiliar na manutenção da saúde financeira.
- Busca por linhas de crédito mais vantajosas: alternativas como financiamentos subsidiados e parcerias com fintechs podem ser opções viáveis.
- Gestão eficiente de recebíveis: a adoção de ferramentas para controle de cobrança e antecipação de recebíveis pode reduzir a pressão sobre o capital de giro.
O avanço da inadimplência das empresas em 2025 reforça a necessidade de políticas econômicas que equilibrem o controle da inflação e o incentivo ao crescimento. Enquanto a Selic continuar elevada, o acesso ao crédito seguirá restrito, exigindo das empresas uma gestão financeira ainda mais eficiente para evitar dificuldades futuras.