Em 2025, o cenário do mercado de ações do setor de varejo tem se mostrado instável e desafiador, refletindo diretamente nas estratégias de grandes players como GPA (PCAR3), Grupo Mateus (GMAT3), Assaí e Carrefour (CRFB3). Entre os principais investidores e analistas do setor, as preocupações com a geração de caixa, endividamento e a competição interna têm sido os fatores determinantes na avaliação das ações dessas empresas.
GPA (PCAR3): Rebaixamento da Recomendação e Perspectivas de Crescimento
O GPA (PCAR3), um dos maiores grupos de varejo do Brasil, viu sua recomendação rebaixada pelo JPMorgan de neutro para equivalente à venda (underweight). A principal razão para essa avaliação negativa está ligada à dificuldade da companhia em gerar caixa. O banco citou que o endividamento elevado da empresa e o baixo fluxo de caixa são questões que podem se agravar com as taxas de juros mais altas no Brasil.
Além disso, o analista da instituição financeira destacou que o índice de alavancagem do GPA é preocupante, estimado em 3,2 vezes para 2025. Esse cenário coloca a empresa em uma situação desafiadora, com a necessidade de racionalizar sua operação para reduzir custos. A possível venda ou fechamento de lojas nas regiões norte e nordeste, onde a operação do GPA tem menos sinergia com a sua base em São Paulo, tem sido uma das estratégias cogitadas pela empresa.
Outro fator que pesa na análise negativa do JPMorgan é o fato de que, apesar da revisão de sortimento e de operações mais enxutas, ainda não há ativos significativos para que a companhia consiga reduzir seu endividamento de forma substancial no curto prazo. O rebaixamento do GPA também vem em um momento de volatilidade nos mercados de varejo, especialmente com a alavancagem do setor de alimentos e o impacto de um possível aumento da inflação.
Grupo Mateus (GMAT3): Recomendação Neutra e Perspectivas Positivas de Crescimento
Ao contrário do cenário do GPA, o Grupo Mateus (GMAT3) manteve uma avaliação mais positiva por parte do JPMorgan, que reiterou sua recomendação neutra, mas com um preço-alvo de R$ 9 por ação. O banco destaca que a companhia continua com um bom momentum operacional, impulsionado pelo ritmo consistente de expansão e pela liderança no mercado onde atua, especialmente no Norte e Nordeste do Brasil.
Uma das vantagens competitivas do Grupo Mateus, segundo o JPMorgan, é a sua parceria com a Novo, o que deve aumentar as barreiras de entrada para outros concorrentes e fortalecer ainda mais sua presença nas regiões onde está presente. O banco destaca que a empresa possui um balanço patrimonial enxuto, com uma relação de 0,5 vez para 2025, o que permite uma maior resiliência a flutuações nas taxas de juros, sendo um diferencial em relação aos seus pares no setor.
Além disso, o JPMorgan projeta um crescimento significativo para o Grupo Mateus nos próximos anos, com uma expansão orgânica de área de vendas de 13% ao ano, o que deve resultar em um crescimento de 18% nas vendas e um aumento de 21% no EBITDA ajustado até 2025.
Assaí: Análise da Performance em Meio à Competição e Juros Altos
O Assaí também foi analisado pelo JPMorgan em 2025, e, apesar de uma boa performance recente, especialmente com a queda nas taxas de juros e a migração de investidores do Carrefour, o banco ainda vê desafios no cenário competitivo. O mercado de atacarejo continua altamente competitivo, e a possível privatização do Carrefour Brasil pode intensificar ainda mais essa disputa por participação de mercado.
O Assaí tem focado na redução de sua alavancagem, o que, por um lado, é positivo para a empresa em termos de estabilidade financeira, mas, por outro lado, limita sua capacidade de adotar uma postura mais agressiva para defender sua fatia de mercado. Além disso, a desaceleração da inflação de alimentos, que impacta diretamente as margens de lucro da companhia, é outro fator que pode dificultar a entrega de bons resultados em 2025. O JPMorgan manteve a recomendação neutra e reduziu o preço-alvo de R$ 10 para R$ 8,50 por ação.
Carrefour Brasil: Desafios e Mudanças com a Proposta de Deslistamento da Bolsa
O Carrefour Brasil (CRFB3), por sua vez, enfrenta um momento de transição, com a proposta de sair da bolsa de valores, o que pode alterar sua dinâmica de operações e estratégias. O JPMorgan rebaixou o preço-alvo da ação de R$ 11,50 para R$ 7,70, refletindo as incertezas em relação a essa mudança estrutural.
O banco acredita que, como uma subsidiária privada, o Carrefour Brasil poderá se tornar um player mais agressivo, especialmente em um cenário onde sua controladora centralize as decisões financeiras, permitindo maior flexibilidade para o crescimento da operação local. Isso poderá resultar em um maior foco no crescimento do lucro operacional, mas também pode gerar mais incertezas quanto à sustentabilidade de sua estratégia no longo prazo.
Impactos da Taxa de Juros e Inflação nos Resultados das Varejistas Brasileiras
As taxas de juros mais altas têm sido um fator constante de preocupação para as empresas do setor de varejo, com impacto direto nas margens de lucro e na alavancagem. Em um cenário de juros elevados, como o que o Brasil experimenta em 2025, o acesso ao crédito se torna mais difícil, o que pode afetar tanto a capacidade de expansão das empresas quanto sua operação diária.
Além disso, o cenário inflacionário também continua a ser um desafio. Com a expectativa de que a inflação de alimentos desacelere em relação ao que foi projetado no início de 2025, as margens de lucro das varejistas podem ser impactadas, especialmente para aquelas com maior dependência do setor alimentício, como o GPA e o Carrefour.
O Futuro do Setor de Varejo no Brasil em 2025
Em 2025, o setor de varejo brasileiro está enfrentando um período de desafios significativos, com altas taxas de juros, inflação incerta e uma competição cada vez mais intensa entre os principais players do mercado. O GPA (PCAR3), apesar de alguns esforços para melhorar sua operação, enfrenta uma realidade desafiadora em termos de endividamento e geração de caixa, o que levou à sua reavaliação negativa por analistas como o JPMorgan.
Por outro lado, o Grupo Mateus (GMAT3) segue com perspectivas positivas, apoiadas em um crescimento consistente e em um modelo de negócios mais resistente a flutuações econômicas. Empresas como Assaí e Carrefour também precisam se adaptar a um ambiente em constante mudança, com a pressão de manter a competitividade e responder às dinâmicas econômicas de 2025.