Dólar sobe frente ao real com cautela global e decisão do Copom sobre a Selic

Moeda norte-americana avança com cenário externo adverso, enquanto alta da Selic sustenta o real no longo prazo

O dólar à vista registrava alta frente ao real nesta quinta-feira (20), impulsionado pela valorização da moeda norte-americana no exterior. A incerteza sobre os próximos passos da política monetária dos Estados Unidos e a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileiro de elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano, impactaram os mercados financeiros.

Dólar sobe 0,27% e atinge R$ 5,6640

Às 10h23, o dólar à vista avançava 0,27%, sendo cotado a R$ 5,6640 na venda. Na B3, o contrato futuro da moeda para o primeiro vencimento subia 0,01%, a R$ 5,663. O movimento reflete um cenário externo mais desafiador, que ofuscou fatores internos favoráveis à divisa brasileira.

Os investidores acompanharam atentamente a decisão do Copom, que, além do aumento da Selic, indicou que uma nova alta menor poderá ocorrer na próxima reunião, em maio. Segundo o comunicado do Banco Central, a magnitude do ciclo de aperto monetário dependerá da trajetória da inflação e de sua convergência para a meta estabelecida.

Copom mantém postura rígida contra a inflação

A decisão do Banco Central era amplamente esperada, mas o mercado aguardava sinais mais claros sobre os próximos passos da autoridade monetária. Com o avanço da taxa de juros, o Brasil mantém um diferencial atrativo em relação a outras economias emergentes, o que pode estimular a entrada de capital estrangeiro e fortalecer o real.

“Essa sinalização de continuidade no aperto monetário fortalece a credibilidade do Banco Central e deve manter o real relativamente protegido em um ambiente global volátil”, destacou Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Impacto do Fed e o cenário global

No cenário externo, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, decidiu manter a taxa de juros na faixa de 4,25% a 4,50% na véspera. Embora essa decisão já fosse esperada pelo mercado, as projeções da autoridade monetária indicam que ainda são previstos cortes de 0,50 ponto percentual nos juros norte-americanos até o final do ano. Essa perspectiva, no entanto, não foi suficiente para aliviar os receios dos investidores.

Antes da decisão do Fed, operadores de mercado apostavam em ao menos duas reduções de juros em 2025, com possibilidade de um terceiro corte. A cautela dos dirigentes do banco central norte-americano, somada às incertezas sobre o crescimento econômico dos EUA, reforçou a busca por ativos mais seguros, elevando a cotação do dólar globalmente.

“A incerteza sobre a economia dos EUA está elevada, e os dirigentes do Fed demonstraram preocupação com um cenário mais difícil no futuro. Isso acaba impulsionando o dólar e pressionando as moedas emergentes”, avaliou Mattos.

O índice do dólar, que mede o desempenho da moeda frente a uma cesta de seis divisas globais, subia 0,63%, atingindo 104,030 pontos.

Incertezas geopolíticas e riscos adicionais ao mercado

Além dos fatores econômicos, o mercado continua atento às tensões geopolíticas que agravam a volatilidade nos mercados. A guerra na Ucrânia e a escalada do conflito na Faixa de Gaza adicionam incertezas ao cenário global, o que contribui para a valorização do dólar como ativo de proteção.

Nos Estados Unidos, as políticas do presidente Donald Trump também geram preocupações entre economistas e investidores. Medidas como tarifas comerciais, controle rígido da imigração e demissões em massa no governo são vistas como fatores que podem impactar negativamente a economia norte-americana no médio prazo.

Expectativas para os próximos meses

A trajetória do dólar no Brasil seguirá influenciada por fatores internos e externos. O diferencial de juros brasileiro continua elevado, o que pode atrair fluxo estrangeiro para o país e sustentar o real em momentos de maior estabilidade. No entanto, a força do dólar globalmente e o temor de uma recessão nos EUA podem continuar pressionando a moeda brasileira.

Para os próximos meses, analistas monitoram o comportamento da inflação no Brasil e os próximos movimentos do Banco Central, enquanto acompanham as decisões do Fed nos Estados Unidos.

“A manutenção da Selic em patamares elevados pode ser uma ferramenta importante para controlar a inflação e atrair investimentos, mas o cenário externo ainda impõe desafios ao real”, concluiu Mattos.