O presidente Donald Trump cumpriu sua ameaça de impor amplas tarifas de importação ao Canadá e ao México e dobrou uma cobrança já existente sobre a China, provocando rápidas retaliações que mergulharam a economia global em uma guerra comercial cada vez mais profunda.
As novas tarifas dos EUA — taxas de 25% sobre a maioria das importações canadenses e mexicanas, além do aumento da tarifa sobre a China para 20% — se aplicam a aproximadamente US$ 1,5 trilhão em importações anuais. Esse movimento expansivo sinaliza aos mercados que o presidente republicano está comprometido em causar impacto econômico para gerar novas receitas e criar empregos na indústria manufatureira doméstica.
O Canadá reagiu com tarifas escalonadas sobre US$ 107 bilhões em bens dos EUA, enquanto a China impôs tarifas de até 15%, principalmente sobre embarques agrícolas americanos. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse na segunda-feira que seu governo aguardaria a decisão de Trump antes de reagir com eventuais medidas de retaliação e deve se pronunciar à imprensa na manhã de terça-feira, horário local.
As ações — realizadas antes de um discurso em horário nobre ao Congresso na terça-feira, onde Trump detalhará suas prioridades para o segundo mandato — marcam uma nova fase na ampla reestruturação econômica e diplomática dos EUA no cenário mundial. A confirmação das tarifas elimina dúvidas sobre se o presidente americano realmente seguiria adiante com suas ameaças repetidas de desestabilizar os laços econômicos globais para combater o que ele considera um comércio desequilibrado.
“Estamos em uma nova era onde o mantra é proteger mercados, e os EUA estão liderando esse movimento”, disse Alicia Garcia Herrero, economista-chefe da Natixis para a Ásia-Pacífico. “A China retaliou mirando nos eleitores mais fiéis de Trump, do setor agrícola. Mas isso não vai detê-lo.”
As tarifas elevaram os impostos sobre importação nos EUA ao maior nível médio desde 1943, segundo o Budget Lab da Universidade de Yale. Isso pode resultar em até US$ 2.000 em custos adicionais para as famílias americanas e levar a um crescimento econômico significativamente mais lento nos EUA, especialmente se outros países reagirem, de acordo com um relatório publicado na segunda-feira.
“A lição das primeiras semanas da presidência de Trump é que essas políticas podem mudar dependendo das concessões que os países estão dispostos a fazer”, escreveram Maeva Cousin e Rana Sajedi, economistas da Bloomberg, em uma nota de pesquisa divulgada na terça-feira. “Mas, se persistirem, o impacto será significativo.”
Mais tarifas por vir
Trump já indicou que mais tarifas estão a caminho, incluindo, em abril, tarifas recíprocas sobre todos os parceiros comerciais dos EUA que possuem suas próprias taxas ou barreiras aos produtos americanos, além de tributos setoriais de 25% sobre automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos. Essas tarifas também serão cumulativas — ou seja, aplicadas além de qualquer tarifa geral sobre um determinado país.
Trump também afirmou que uma tarifa de 25% está sendo preparada para a União Europeia e que está investigando a aplicação de tarifas sobre as importações de cobre e madeira. Tarifas sobre aço e alumínio também devem entrar em vigor em 12 de março, afetando ainda mais Canadá e México.
O porta-voz da Comissão Europeia, Olof Gill, disse que a decisão dos EUA ameaça desestabilizar o comércio global, prejudicar parceiros econômicos e gerar incerteza. “Essas tarifas ameaçam cadeias de suprimentos profundamente integradas, fluxos de investimento e a estabilidade econômica transatlântica”, afirmou em um comunicado por e-mail.
O governo canadense adotou uma primeira fase de retaliação com tarifas de 25% sobre cerca de C$ 30 bilhões (US$ 20,6 bilhões) em produtos de exportadores americanos, que entrarão em vigor ao mesmo tempo que as tarifas dos EUA. Uma segunda rodada, com a mesma taxa, será aplicada a C$ 125 bilhões em produtos dentro de três semanas — incluindo itens de alto valor como automóveis, caminhões, aço e alumínio.
“O Canadá não deixará essa decisão injustificada sem resposta”, afirmou o primeiro-ministro Justin Trudeau em comunicado. O plano de retaliação é o mesmo que ele anunciou em fevereiro, depois que Trump assinou sua ordem executiva para amplas tarifas.
As tarifas de 25% que entraram em vigor se aplicam a todas as importações do Canadá e do México, exceto para o setor energético canadense, que será taxado em 10%. As tarifas de Trump sobre Canadá e México terão implicações particularmente graves para o setor automotivo, uma indústria cujas cadeias de suprimentos atravessam os três países.
No entanto, o governo de Trump adiou a remoção da chamada isenção “de minimis” para bens de baixo custo até que desenvolva um plano para arrecadar receita com essas importações. Isso significa que, por enquanto, canadenses e mexicanos podem continuar enviando produtos de baixo custo para os EUA sem tarifas.
Trump inicialmente anunciou as tarifas sobre os vizinhos norte-americanos e a China em fevereiro, como punição pelo que ele classificou como falha em bloquear o fluxo de imigrantes indocumentados e drogas ilegais, como o fentanil, através das fronteiras dos EUA. Mas, enquanto uma tarifa de 10% sobre as importações chinesas entrou em vigor no mês passado, Trump adiou os impostos sobre importações do Canadá e do México até 4 de março — dando-lhes tempo para negociar uma isenção. Essa trégua não durou.
“O fracasso de ambas as nações em prender traficantes, apreender drogas ou coordenar-se com as forças de segurança dos EUA constitui uma ameaça incomum e extraordinária à segurança da América”, afirmou a Casa Branca em um documento informativo ao implementar as tarifas.
Isso deixa incerto o futuro do acordo comercial que Trump negociou com Canadá e México em seu primeiro mandato, além de aumentar os riscos de pressão sobre a economia dos EUA e reacender a inflação, que já dá sinais de aquecimento.
Medidas “moderadas”
Em resposta, a China impôs tarifas de até 15% sobre bens americanos e proibiu exportações para algumas empresas de defesa dos EUA como retaliação à nova tarifa da administração Trump. Produtos como soja, carne bovina e frutas estão entre os que enfrentarão uma tarifa de 10%, segundo um anúncio do Ministério das Finanças da China.
“As medidas ainda são relativamente moderadas por enquanto”, disse Lynn Song, economista-chefe do ING Bank para a China. “Essa retaliação mostra que a China continua paciente e evitou ‘virar a mesa’, por assim dizer, apesar da recente escalada.”
A China também interrompeu as importações de toras de madeira dos EUA após a detecção de pragas nos carregamentos americanos, além de bloquear a importação de soja de três empresas americanas, segundo comunicados separados.
Trump sinalizou interesse em falar com o líder chinês Xi Jinping, mas os dois ainda não conversaram um mês depois que o presidente dos EUA mencionou a possibilidade de um telefonema para negociar um acordo.
As novas tarifas representam uma aposta arriscada para um presidente eleito, em parte, pela insatisfação com a gestão econômica de seu antecessor, em meio a pesquisas que indicam que os eleitores querem que Trump faça mais para conter a inflação.
Trump desconsiderou alertas de economistas de que as tarifas podem impulsionar o aumento dos preços e fracassar em gerar a receita prevista por sua administração, que busca aliviar preocupações sobre os custos de um pacote de cortes de impostos aprovado pelo Congresso, estimado em trilhões de dólares.