Rebaixamento da Braskem pela Moody’s acende alerta sobre futuro da maior petroquímica das Américas
Análise do cenário da Braskem após rebaixamento da Moody’s e suas implicações no mercado
A Braskem, considerada a maior empresa petroquímica do Brasil e das Américas, teve sua classificação de crédito rebaixada pela agência internacional Moody’s. O novo rating passou de Ba2 para Ba3, afetando dois importantes segmentos da companhia. O rebaixamento da Braskem levanta preocupações sobre sua saúde financeira, especialmente diante de um cenário macroeconômico global instável e da performance abaixo do esperado em suas operações internacionais, especialmente no México.
A decisão da Moody’s reflete uma combinação de fatores críticos, como o fraco desempenho operacional, o aumento acentuado da alavancagem e um fluxo de caixa livre severamente negativo. Neste contexto, especialistas já apontam que o rebaixamento da Braskem é mais do que um movimento isolado – trata-se de um indicativo claro sobre as dificuldades que a companhia enfrenta para manter sua sustentabilidade financeira e competitividade internacional.
Motivações do rebaixamento da Braskem: baixa geração de caixa e dívida crescente
A Moody’s justificou o rebaixamento da Braskem com base em dois pilares fundamentais: a baixa geração de caixa e os fracos indicadores de crédito. De acordo com o relatório da agência, o desempenho financeiro da companhia em 2024 ficou aquém das expectativas, especialmente nas operações do México, e refletiu diretamente nos números consolidados.
O que chama atenção no cenário da Braskem é o nível alarmante de alavancagem, que no final de 2024 chegou a 15,3 vezes o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Este é o maior patamar já registrado na série histórica da companhia, indicando uma fragilidade acentuada na estrutura de capital.
Além disso, o fluxo de caixa livre da Braskem foi negativo em impressionantes R$ 5,6 bilhões, consequência direta da performance operacional enfraquecida e dos elevados desembolsos relacionados a ações emergenciais no estado de Alagoas, onde a empresa enfrenta sérios problemas ambientais e estruturais.
A crise em Alagoas e seus impactos no caixa da companhia
Um fator determinante para o rebaixamento da Braskem foi o incidente ocorrido em Alagoas, que desde 2018 vem exigindo ações corretivas e investimentos vultosos por parte da companhia. Em dezembro de 2023, a empresa registrou uma nova provisão de R$ 1,3 bilhão para o encerramento das atividades de mineração de sal na região.
Com isso, as provisões totais relacionadas ao incidente chegaram a R$ 17,7 bilhões, dos quais R$ 12,7 bilhões já foram desembolsados até dezembro de 2024. Esse cenário tem drenado os recursos da Braskem, afetando negativamente sua liquidez e capacidade de investir em novos projetos estratégicos.
Perspectivas para 2025: será possível a recuperação da Braskem?
Apesar do panorama desafiador, a Moody’s acredita que a alavancagem da Braskem pode recuar para algo entre 6,5x a 7,5x nos próximos 12 a 18 meses, caso o EBITDA da empresa se recupere e os spreads de produtos petroquímicos se estabilizem. No entanto, esse cenário depende de uma melhora macroeconômica global e da retomada da demanda por produtos químicos, especialmente nos mercados internacionais onde a empresa atua.
Para 2025, a expectativa é que a Braskem consiga manter um fluxo de caixa livre neutro, mesmo com as despesas ainda elevadas no Nordeste brasileiro. Isso seria um passo importante rumo à estabilidade, mas ainda insuficiente para garantir uma melhoria imediata em sua classificação de risco.
Moody’s aponta risco contínuo: cenário macro ainda desfavorável
A Moody’s reiterou que a alavancagem da Braskem continua muito alta para sua atual classificação de crédito, o que impede uma melhora no rating no curto prazo. Além disso, a agência destacou o risco de uma desaceleração macroeconômica global adicional, o que poderia estender o atual ciclo de baixa do setor petroquímico e agravar ainda mais a situação da companhia.
Essa perspectiva pessimista reduz o otimismo dos investidores e analistas sobre a capacidade da Braskem de reverter sua situação no médio prazo. A confiança no potencial da empresa está, neste momento, limitada por incertezas sobre sua capacidade de gerar caixa de forma sustentável e por riscos reputacionais associados aos problemas em Alagoas.
A força da Braskem: posição dominante e diversificação geográfica
Mesmo diante do rebaixamento, a Braskem mantém alguns diferenciais competitivos importantes. A companhia continua sendo a maior produtora de resinas das Américas, com posição dominante no mercado brasileiro. Além disso, sua presença internacional com operações nos EUA, México e Europa permite uma diversificação geográfica que atenua os riscos específicos de mercado.
A Moody’s reconhece esses fatores positivos como sustentação para a classificação Ba3. No entanto, o risco financeiro decorrente da alta alavancagem e do fluxo de caixa negativo pesa mais no balanço, limitando qualquer melhora nas perspectivas de curto prazo.
Desafios para o futuro: o que a Braskem precisa fazer para reconquistar a confiança do mercado
Para recuperar seu grau de investimento e melhorar sua avaliação junto às agências de rating, a Braskem precisa adotar medidas robustas de ajuste financeiro, que incluam:
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Redução acelerada do nível de endividamento
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Melhora consistente no EBITDA
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Gestão mais eficiente do fluxo de caixa
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Revisão dos gastos não estratégicos
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Resolução definitiva das questões ambientais em Alagoas
Além disso, a companhia precisa restabelecer a confiança dos investidores por meio de transparência na governança e comprometimento com a sustentabilidade, uma tendência cada vez mais valorizada por analistas e acionistas.
O rebaixamento da Braskem é um alerta vermelho
O rebaixamento da Braskem para Ba3 pela Moody’s é um alerta vermelho que deve ser interpretado não apenas como uma nota técnica, mas como um sinal claro das fragilidades estruturais da companhia. A soma de problemas operacionais, ambientais, financeiros e reputacionais coloca a Braskem em uma encruzilhada.
A recuperação da empresa dependerá da sua capacidade de reverter os indicadores financeiros negativos e de reagir de forma estratégica aos desafios do setor petroquímico global. O ano de 2025 será determinante para sabermos se a Braskem conseguirá recuperar sua posição de destaque ou continuará afundando em um ciclo de perdas e desconfiança.