Alckmin descarta guerra tarifária com os EUA e aposta em cotas para equilíbrio comercial

Alckmin descarta guerra tarifária com os EUA e aposta em cotas para equilíbrio comercial

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Geraldo Alckmin, reforçou a necessidade de cautela e diálogo na resposta à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio. Segundo Alckmin, a melhor alternativa para evitar prejuízos ao Brasil seria a adoção de um sistema de cotas.

Diálogo e cautela: a estratégia brasileira

Durante uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, após um evento do programa Nova Indústria Brasil, Alckmin afirmou que o comércio exterior deve ser visto como uma relação de “ganha-ganha”, onde todos os lados podem se beneficiar. O ministro rechaçou qualquer ideia de uma “guerra tributária” com os EUA e defendeu a manutenção do diálogo como melhor solução.

“Não tem guerra tributária, tem entendimento baseado no interesse público. Eu sou dos que defendem o comércio exterior. Estamos abertos ao diálogo e as cotas são um bom caminho. Se você aumenta o imposto de importação do aço, isso tem um efeito na cadeia. Então, a cota é uma boa solução, o caminho é o diálogo”, afirmou Alckmin.

Negociação com os EUA através do USTR

O ministro também destacou que já iniciou conversas sobre o assunto com a embaixadora do Brasil nos Estados Unidos, Maria Luiza Ribeiro Viotti. No entanto, a negociação com os EUA ainda depende da definição dos novos integrantes do USTR (United States Trade Representative), órgão responsável por estabelecer tarifas de importação.

“Vamos procurar o governo norte-americano por meio do USTR, que é o setor que cuida disso. Como o governo americano acabou de tomar posse, os nomes dessa área ainda estão em aprovação no Congresso. Mas vamos procurar os nomes e buscar a melhor solução. O caminho é sempre o ganha-ganha”, acrescentou Alckmin.

Equilíbrio na balança comercial Brasil-EUA

O vice-presidente ressaltou que a balança comercial entre Brasil e Estados Unidos é equilibrada. Segundo ele, o Brasil exporta anualmente cerca de US$ 40,3 bilhões para os EUA, enquanto os americanos exportam para o Brasil aproximadamente US$ 40,5 bilhões.

“Os EUA têm um pequeno superávit em relação ao Brasil. Se incluirmos serviços na balança comercial, o superávit americano chega a US$ 7,2 bilhões, sendo o sétimo maior superávit dos EUA no mundo. Nossa taxa final de importação é de 2,7%, o que é muito baixo. Então, o caminho é o diálogo. Isso já aconteceu anteriormente e foi estabelecida uma cota, então vamos dialogar”, completou Alckmin.

Postura do governo Lula e pragmatismo nas negociações

A declaração de Alckmin ocorre em meio a um posicionamento mais assertivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que indicou a possibilidade de medidas de reciprocidade contra os EUA caso haja taxação sobre produtos brasileiros. Entretanto, segundo fontes do governo, medidas retaliatórias não devem ser prioridade neste momento.

Conforme interlocutores de Brasília, a decisão de Trump não é dirigida exclusivamente ao Brasil, mas impacta diversos países. Além disso, o governo brasileiro tem como referência a bem-sucedida negociação conduzida durante o primeiro mandato de Trump.

Setor econômico e pragmatismo nas negociações

O governo também busca evitar uma postura de confronto que possa prejudicar setores estratégicos da economia brasileira, especialmente aqueles relacionados à geração de divisas e empregos.

Essa estratégia pragmática tem sido aplicada também em outros aspectos da relação bilateral Brasil-EUA, como no caso das deportações de imigrantes ilegais. Em vez de um embate direto, o governo brasileiro optou por negociar condições mais dignas para os deportados, em parceria com a Casa Branca. A forma como esse caso foi tratado reforça o compromisso do Brasil em adotar soluções negociadas e evitar rupturas diplomáticas desnecessárias.

Diante do novo cenário de taxações imposto pelos EUA, o Brasil adota uma estratégia diplomática focada no diálogo e no pragmatismo. A manutenção de um sistema de cotas é vista pelo governo como uma solução inteligente para preservar o equilíbrio da balança comercial e evitar medidas que possam gerar impactos negativos para o setor industrial brasileiro. A postura adotada reforça a busca por um consenso e evita um embate econômico que poderia prejudicar ambos os países.