Operação Hydra: Investigação de Lavagem de Dinheiro Envolve Fintechs e Facção Criminosa PCC
Em um desdobramento significativo da luta contra a lavagem de dinheiro no Brasil, a Polícia Federal, em colaboração com o Ministério Público de São Paulo, deflagrou nesta terça-feira (25) a Operação Hydra. A operação visa desmantelar uma rede de lavagem de dinheiro vinculada ao Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das facções criminosas mais poderosas do país. A ação foca em duas fintechs, 2GO Bank e Invbank, acusadas de serem usadas como meios para encobrir transações financeiras ilícitas, ligadas à compra de imóveis de luxo e à movimentação de dinheiro sujo de fontes criminosas.
A investigação, que resultou em uma série de prisões e apreensões, coloca a lavagem de dinheiro como um dos principais eixos de atuação dessas fintechs. Segundo as autoridades, o caso está intimamente ligado à facção PCC, uma organização criminosa que, ao longo dos anos, tem se infiltrado em diversos setores financeiros, usando tecnologias e empresas como fachada para esconder a origem ilícita de seus recursos.
Prisões e Bloqueios: Consequências da Operação Hydra
A Operação Hydra teve como resultado a prisão preventiva do policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, que estava diretamente envolvido com a 2GO Bank, uma das fintechs investigadas. Além disso, a operação cumpriu dez mandados de busca e apreensão em diversos locais de São Paulo, incluindo as cidades de Santo André e São Bernardo do Campo. Como parte das ações, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 27,9 milhões em oito contas bancárias associadas às empresas e a suspensão temporária das atividades da 2GO Bank e Invbank, as fintechs investigadas.
O foco principal da Operação Hydra é desbaratar o uso dessas plataformas financeiras para mascarar a origem de recursos oriundos de atividades criminosas, incluindo o tráfico de drogas e outros crimes atribuídos ao PCC. A lavagem de dinheiro, uma prática criminosa que busca dar aparência de legalidade a fundos ilícitos, tem sido um dos maiores desafios para as autoridades brasileiras no combate ao crime organizado.
O Papel das Fintechs: 2GO Bank e Invbank na Lavagem de Dinheiro
De acordo com as investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), as fintechs 2GO Bank e Invbank estavam diretamente envolvidas em operações de disfarce de recursos ilícitos. O 2GO Bank, fundado por Cyllas Salerno Elia Júnior, tinha como foco o mercado de casas de apostas e corretoras de criptomoedas. Porém, segundo os relatórios de inteligência financeira, a fintech também servia como um banco para investidores do mercado esportivo, facilitando a movimentação de dinheiro sujo proveniente de fontes criminosas.
Por sua vez, a Invbank parecia ter sido criada com um objetivo específico: fazer contratos com construtoras e atuar como um intermediário para a “esquentação” de dinheiro sujo. A empresa de Cara Preta, Anselmo Becheli Santa Fausta, foi identificada como sócia oculta da Invbank. Juntas, as duas entidades financeiras estavam envolvidas em investimentos milionários em imóveis de luxo, um dos principais alvos da lavagem de dinheiro no Brasil.
A Delação Premiada e o Início das Investigações
O estopim para as investigações foi uma delação premiada feita por Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, que, antes de ser assassinado em novembro de 2023 no Aeroporto de Guarulhos, revelou detalhes cruciais sobre o funcionamento das fintechs ligadas ao PCC. Gritzbach forneceu informações sobre o papel das 2GO Bank e Invbank na movimentação de grandes quantidades de dinheiro, originário de atividades criminosas, entre elas, a lavagem de dinheiro.
Em sua delação, Gritzbach apontou diretamente para Anselmo Becheli Santa Fausta e Rafael Maeda, conhecidos como “Cara Preta” e “Japa”, respectivamente. Ambos eram figuras chave no esquema financeiro que operava nas sombras do PCC. Cara Preta, assassinado em 2021, e Japa, morto em 2023, estavam diretamente ligados à movimentação de recursos ilícitos por meio dessas fintechs.
A Relevância da Operação Hydra no Combate à Lavagem de Dinheiro
A Operação Hydra é um dos maiores esforços das autoridades brasileiras no combate à lavagem de dinheiro associada a facções criminosas como o PCC. O uso de fintechs e outros meios tecnológicos para mascarar a origem ilícita dos recursos é uma estratégia cada vez mais comum entre organizações criminosas, e a operação representa um avanço importante no combate a essas práticas.
A lavagem de dinheiro é um crime de proporções gigantescas, que envolve a utilização de empresas, bancos e outras instituições financeiras para transformar recursos ilegais em ativos aparentemente legítimos. No caso da Operação Hydra, o envolvimento de fintechs como a 2GO Bank e a Invbank demonstra como a inovação no setor financeiro também pode ser usada de maneira fraudulenta, facilitando a entrada de recursos provenientes de atividades ilícitas no circuito econômico formal.
A Conexão com a Operação Tacitus
A Operação Hydra ocorre em um momento em que as investigações sobre o PCC estão cada vez mais avançadas. Poucos dias antes, o Gaeco havia denunciado 12 pessoas, incluindo policiais civis e empresários, por crimes de lavagem de dinheiro e corrupção. A denúncia é parte do desdobramento da Operação Tacitus, que investiga o conluio entre delegados, investigadores e membros do PCC.
No caso da Operação Tacitus, as investigações indicam que houve manipulação de investigações e apropriação de bens provenientes de crimes. Além disso, os promotores estão pedindo o confisco de R$ 40 milhões como ressarcimento à sociedade, uma medida que visa combater as repercussões da lavagem de dinheiro e devolver os recursos à população.
Implicações para o Sistema Financeiro e as Autoridades
A Operação Hydra tem grandes implicações para o sistema financeiro brasileiro e para a atuação das autoridades responsáveis pela fiscalização do mercado financeiro. O uso de fintechs para lavagem de dinheiro demonstra como o setor financeiro pode ser vulnerável a práticas criminosas. Ao mesmo tempo, a operação evidencia a crescente importância da cooperação entre as instituições financeiras, a Polícia Federal e o Ministério Público na identificação e combate a essas práticas ilícitas.
Além disso, a operação sublinha a necessidade de maior vigilância sobre as fintechs e outras empresas do setor financeiro que operam no Brasil. As autoridades precisam estar atentas às atividades dessas empresas, para evitar que elas sejam usadas como fachada para a lavagem de dinheiro e outros crimes organizados.
O Desafio Contínuo da Lavagem de Dinheiro no Brasil
A Operação Hydra é apenas um exemplo do constante combate à lavagem de dinheiro no Brasil. Embora tenha sido um grande passo no desmantelamento de uma rede criminosa, a operação também ilustra os desafios enfrentados pelas autoridades brasileiras ao lidarem com a infiltração do PCC em diversos setores da economia.
O combate à lavagem de dinheiro requer vigilância constante, além da adoção de medidas preventivas e educativas, que envolvam tanto as empresas quanto os consumidores. É fundamental que as fintechs e outros operadores financeiros sejam rigorosamente regulamentados, para evitar que se tornem canais de práticas criminosas.