Filme “Ainda Estou Aqui”: A História da Ditadura Militar e Sua Relevância para a Política Brasileira Atual

Filme “Ainda Estou Aqui”: A História da Ditadura Militar e Sua Relevância para a Política Brasileira Atual

O debate sobre os efeitos da ditadura militar brasileira continua a ser um tema relevante no cenário político e cultural do Brasil. Recentemente, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), fez declarações contundentes sobre o período da ditadura, enquanto participava de uma sessão privativa do filme Ainda Estou Aqui, um aclamado longa-metragem que retrata a história da ditadura militar e suas consequências até os dias atuais. A sessão ocorreu no Palácio da Alvorada, em 24 de fevereiro de 2025, e contou com a presença de autoridades políticas, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros de Estado.

No discurso de posse de Hugo Motta, realizado no dia 1º de fevereiro de 2025, o parlamentar fez referência ao filme Ainda Estou Aqui e criticou duramente o regime militar. Motta lembrou a famosa frase de Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte de 1988, que ressoou fortemente nos corredores do Congresso Nacional: “Tenho ódio e nojo à ditadura”. Essa citação se tornou um marco histórico, ecoando o sentimento de resistência contra o regime militar que durou de 1964 a 1985 e deixou cicatrizes profundas na sociedade brasileira.

O Filme “Ainda Estou Aqui” e Sua Relevância Histórica

Ainda Estou Aqui é um filme que aborda a história de Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres), esposa do deputado Rubens Paiva (Selton Mello), que foi sequestrado, torturado e assassinado durante a ditadura militar em 1971. O filme acompanha a jornada de Eunice, que tenta superar a dor de perder o marido e ainda busca respostas para o desaparecimento dele. No filme, o Estado brasileiro só reconhece a morte de Rubens Paiva na década de 1990, através da emissão de uma certidão de óbito que finalmente admite que ele foi assassinado pela ditadura militar.

A obra não apenas faz uma representação vívida da repressão política do regime militar, mas também traz à tona uma série de questões não resolvidas que ainda marcam a memória coletiva do Brasil. O filme foi indicado a diversos prêmios importantes, incluindo Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres sendo indicada na categoria de Melhor Atriz.

Com sua estreia durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Ainda Estou Aqui se tornou um ponto de reflexão para a sociedade brasileira sobre os erros do passado e as injustiças que ainda precisam ser corrigidas. O filme tem gerado debates não só sobre a narrativa histórica da ditadura, mas também sobre a importância de lembrar e reconhecer o sofrimento das vítimas do regime militar.

A Crítica à Ditadura Militar e o Papel da Política Brasileira

Em sua declaração no discurso de posse, Hugo Motta abordou diretamente as questões que ainda provocam polêmica sobre a ditadura militar no Brasil. O presidente da Câmara, embora tenha criticado as ações da ditadura, foi cauteloso ao afirmar que, apesar da gravidade dos eventos, não se pode chamar o período de “golpe”, já que, segundo ele, não houve um líder central ou apoio das Forças Armadas para dar sustentação a um golpe clássico. Ele se distanciou de interpretações simplistas sobre o regime e enfatizou a importância de, ao olhar para o passado, preservar a verdade histórica.

Essa posição, no entanto, gerou controvérsia, especialmente em um momento de reavaliação crítica do período militar e sua influência na política atual. Para muitos críticos, as palavras de Motta não reconhecem plenamente o caráter autoritário e violento do regime militar, que não apenas causou o desaparecimento de figuras políticas como Rubens Paiva, mas também subjugou um grande número de brasileiros com torturas e exílio. Isso se reflete em filmes como Ainda Estou Aqui, que buscam dar voz às vítimas dessa repressão.

O Impacto do Filme e Sua Repercussão Política

A exibição de Ainda Estou Aqui no Palácio da Alvorada teve um forte impacto, refletindo o clima político do país e a crescente atenção ao legado da ditadura militar. A presença de figuras como o presidente Lula e ministros de Estado na sessão privativa do filme demonstra como a política brasileira atual ainda é profundamente influenciada pelos eventos do passado. Ao assistir ao filme, os líderes políticos são convidados a refletir sobre o papel do Estado na repressão aos direitos humanos durante o regime militar, além de destacar a necessidade de reconhecimento e reparação para as vítimas da ditadura.

Esse evento também ocorreu em um momento estratégico, já que a premiação do Oscar, na qual o filme está concorrendo a várias categorias, será realizada no dia 1º de março de 2025. A conexão do filme com o cenário político brasileiro é clara: ao abordar um tema delicado, o filme contribui para o processo de reavaliação do passado autoritário do Brasil, ao mesmo tempo que oferece uma narrativa pessoal e emocional que conecta os espectadores à tragédia vivida pelas famílias das vítimas da ditadura.

Financiamento do Filme e Seu Sucesso Internacional

Ainda Estou Aqui é um exemplo de como o cinema pode desempenhar um papel crucial na preservação da memória histórica e na promoção de diálogos importantes sobre direitos humanos. A obra recebeu apoio tanto no Brasil quanto internacionalmente, sendo reconhecida por sua qualidade artística e relevância política. As indicações ao Oscar aumentaram ainda mais a visibilidade do filme, consolidando-o como uma produção cultural de destaque.

Além disso, o filme também despertou o interesse de estudiosos e historiadores, que veem em sua trama uma ferramenta poderosa para educar as gerações mais jovens sobre os horrores da ditadura militar. O fato de a história de Eunice Paiva e seu marido Rubens ter sido filmada e mostrada ao mundo dá visibilidade a uma das inúmeras histórias de resistência que foram abafadas durante o regime militar.

A Luta Pela Memória e Justiça

A história de Ainda Estou Aqui é um reflexo de um Brasil que ainda luta para lidar com as sombras de sua ditadura militar. Enquanto o filme traz à tona as lembranças dolorosas de uma época de repressão, ele também oferece uma mensagem de resistência e esperança, simbolizada pela figura de Eunice Paiva e sua luta por justiça. Hugo Motta, ao participar da sessão do filme e fazer suas declarações políticas, não apenas reforça a importância de lembrar os erros do passado, mas também coloca em foco a necessidade de avançar para um futuro mais justo e equilibrado, sem repetir os erros do autoritarismo.

Para os brasileiros, o filme serve como um convite a refletir sobre a necessidade de manter viva a memória da ditadura, para que episódios como os vividos por Eunice Paiva e outras vítimas nunca mais se repitam. Ao mesmo tempo, Ainda Estou Aqui abre um espaço para um diálogo mais profundo sobre a importância da reparação histórica e da preservação da democracia.