Em 2024, a Tiffany & Co., uma das joalherias mais icônicas do mundo, começou a enfrentar um desafio inesperado. Sob a direção de Christopher Kilaniotis, a empresa iniciou a implementação de um aplicativo interno, denominado “Tiffany Joy”, com o objetivo de melhorar o moral de sua equipe e criar um ambiente mais positivo dentro da empresa. O aplicativo foi projetado para incentivar os funcionários a compartilharem momentos de celebração, como o compromisso de casais e grandes vendas, criando uma atmosfera de alegria e motivação.
Entretanto, o que começou como uma estratégia para promover um ambiente mais agradável de trabalho, rapidamente se transformou em uma obrigação. Os funcionários, inicialmente entusiastas, logo começaram a se sentir pressionados a participar de uma maneira que se afastava do espírito de “alegria” proposto. Em pouco tempo, o aplicativo se tornou conhecido entre os empregados como “Alegria Forçada”, refletindo a pressão sobre os trabalhadores para publicarem e interagirem nas postagens.
A relação entre os executivos e a equipe de trabalho, que poderia ter sido fortalecida por meio da adoção de tecnologias internas e estratégias motivacionais, acabou gerando insatisfação. A mudança de foco da empresa e a imposição de metas difíceis de alcançar prejudicaram a moral da equipe, gerando uma série de críticas internas.
Tiffany & Co. sob a Direção de Kilaniotis e Ledru
Com a aquisição da Tiffany & Co. pelo conglomerado de luxo LVMH em 2021, uma série de mudanças significativas foi implementada para modernizar a joalheria e alinhar suas operações com os padrões exigidos por LVMH. A chegada de Christopher Kilaniotis e Anthony Ledru trouxe uma nova visão, que foi refletida em estratégias de vendas e gestão. Um dos principais focos foi vincular o pagamento dos funcionários às metas de vendas, uma prática comum em empresas do setor de luxo, mas que nem sempre gerou os resultados esperados na Tiffany.
Com a promessa de bonificações vinculadas ao atingimento de metas de receita, os executivos criaram um sistema motivacional baseado em resultados que, ao invés de impulsionar a produtividade, acabou sendo um fator de frustração para muitos funcionários. A falta de clareza em relação aos bônus e as mudanças repentinas nas condições de pagamento acabaram minando a confiança da equipe na liderança da empresa. A Tiffany & Co. se viu, assim, diante de um dilema: como melhorar os resultados financeiros sem prejudicar o moral dos seus colaboradores.
Desafios de Gestão na Tiffany & Co.
O problema se agravou na loja modelo da Tiffany, localizada em Manhattan, que, tradicionalmente, representa uma parcela significativa da receita global da empresa. A loja, recentemente reformada com um investimento de mais de US$ 350 milhões, tem enfrentado dificuldades significativas para alcançar suas metas de vendas, com uma queda de 40% no número de vendedores em tempo integral entre 2023 e 2024.
Embora o porta-voz da Tiffany tenha afirmado que a rotatividade de pessoal na loja caiu 5% em comparação com o ano anterior, o número de saídas de funcionários e a dificuldade em preencher vagas de trabalho destacam as dificuldades da empresa em manter uma equipe estável. Comissões mais baixas e um sistema de bônus imprevisível também foram fatores que contribuíram para o desgaste da relação entre os trabalhadores e a gestão.
Além disso, a crescente competição com outras marcas de luxo como Cartier, Harry Winston e Van Cleef & Arpels tem dificultado a atração e retenção de talentos na Tiffany. A constante busca por profissionais qualificados e a perda de vendedores para concorrentes representaram desafios adicionais para a empresa.
O Desafio da Cultura Corporativa na Tiffany & Co.
Um dos principais pontos de atrito dentro da Tiffany & Co. foi a cultura corporativa imposta pela gestão de Kilaniotis e Ledru. A promulgação de uma cultura de vendas agressiva e metas difíceis de atingir acabou gerando um ambiente de trabalho mais tenso, onde a pressão por resultados superou o espírito de equipe e a motivação dos funcionários.
Ao invés de incentivar uma mentalidade de colaboração e felicidade no trabalho, a obrigatoriedade de compartilhar momentos de “alegria” no aplicativo Tiffany Joy resultou em um sentimento de “alegria forçada”. Esse descompasso entre as intenções da gestão e a realidade vivida pelos trabalhadores gerou descontentamento e prejudicou a relação de confiança entre a liderança e os colaboradores.
O caso da Tiffany & Co. serve como um alerta para as empresas que buscam implementar mudanças drásticas sem levar em consideração a cultura interna e as necessidades dos seus funcionários. O equilíbrio entre metas de vendas, bem-estar no ambiente de trabalho e estratégias motivacionais deve ser cuidadosamente planejado para garantir que todos os esforços converjam para o crescimento sustentável da empresa.
O Futuro da Tiffany & Co.
Apesar dos desafios enfrentados pela Tiffany & Co., a marca ainda mantém um lugar privilegiado no mercado de luxo. A sua popularidade global, aliada à forte presença no Brasil e na América Latina, onde recentemente abriu sua primeira loja-conceito, garante que a joalheria continue a ser uma referência no setor.
Entretanto, a empresa precisa repensar sua abordagem em relação à gestão de pessoal e estratégias de vendas. Com a necessidade de reter seus talentos e alcançar suas metas sem comprometer o bem-estar dos funcionários, a Tiffany & Co. deverá adotar uma abordagem mais equilibrada, focada não apenas em resultados financeiros, mas também na criação de um ambiente de trabalho saudável e motivador para sua equipe.
A Tiffany & Co. ainda tem um longo caminho pela frente para resolver suas questões internas e alinhar suas operações à visão de longo prazo da LVMH. Com a manutenção de sua estratégia de luxo e a adaptação a novas formas de engajamento com seus funcionários, a marca pode continuar a brilhar no mercado global de joias.