Parkinson: Como essa técnica está revolucionando o tratamento da doença

Parkinson: Como a Estimulação Elétrica Transcraniana Está Transformando o Tratamento da Doença

A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, comprometendo funções motoras essenciais, como o equilíbrio e a coordenação. Um estudo brasileiro publicado na revista Gait & Posture trouxe novas esperanças para os pacientes ao demonstrar que a estimulação elétrica transcraniana (tDCS) pode melhorar significativamente a resposta postural e reduzir o risco de quedas em pessoas com Parkinson .

Coordenada pelo pesquisador Victor Beretta, do Laboratório de Neurociência e Comportamento Motor (Neurocom-Lab) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Presidente Prudente, a pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e envolveu 22 voluntários com Parkinson . Os resultados mostraram que oito sessões de tDCS promoveram melhorias duradouras no controle postural e na automaticidade dos movimentos, dois aspectos críticos para a qualidade de vida desses pacientes.

Neste artigo, vamos explorar como essa técnica inovadora está sendo aplicada no tratamento complementar do Parkinson , seus benefícios comprovados e as perspectivas futuras para os pacientes.


O Que é o Parkinson e Quais São Seus Principais Desafios?

O Parkinson é uma doença neurodegenerativa caracterizada pela perda progressiva de neurônios produtores de dopamina, um neurotransmissor essencial para o controle motor. Entre os sintomas mais comuns estão tremores, rigidez muscular, lentidão de movimentos e instabilidade postural. Essa última é particularmente preocupante, pois aumenta significativamente o risco de quedas, comprometendo a segurança e a independência dos pacientes.

Embora medicamentos como a levodopa sejam eficazes para aliviar alguns sintomas, o controle postural e a automaticidade dos movimentos frequentemente permanecem pouco responsivos ao tratamento convencional. É nesse contexto que técnicas como a estimulação elétrica transcraniana surgem como alternativas promissoras para melhorar a qualidade de vida de pessoas com Parkinson .


A Estimulação Elétrica Transcraniana no Tratamento do Parkinson

A estimulação elétrica transcraniana (tDCS) é uma técnica não invasiva que utiliza uma corrente elétrica contínua de baixa intensidade (2 miliamperes) para modular a atividade cerebral. No caso do Parkinson , a tDCS é aplicada sobre o córtex motor primário, uma área cerebral associada ao controle do movimento e às respostas posturais automáticas.

De acordo com Victor Beretta, coordenador do estudo, a técnica funciona modulando a prontidão dos neurônios. “Essa estimulação não gera diretamente a transmissão de impulsos nervosos, mas facilita o potencial de membrana, permitindo que o cérebro dispare mais eficientemente os chamados ‘potenciais de ação’”, explica. Esses potenciais são fundamentais para a comunicação entre neurônios e para a contração muscular, processos essenciais para manter o equilíbrio e evitar quedas.


Resultados Promissores no Controle Postural

Os resultados do estudo foram impressionantes. Após oito sessões de estimulação elétrica transcraniana, os voluntários com Parkinson apresentaram melhorias significativas na recuperação do equilíbrio frente a perturbações externas, como tropeços ou escorregões. Além disso, essas melhoras persistiram mesmo um mês após o término das sessões.

Entre as mudanças observadas estão:

  • Redução do tempo de ativação muscular: Os músculos responsáveis pela resposta postural passaram a ser ativados mais rapidamente após as perturbações, o que é crucial para evitar quedas.
  • Diminuição da atividade do córtex pré-frontal: Isso sugere uma melhora na “automaticidade” do movimento, uma capacidade frequentemente comprometida no Parkinson devido à neurodegeneração.

“A melhora da automaticidade é relevante no caso do Parkinson , uma vez que a neurodegeneração característica da doença altera a capacidade dos pacientes de realizar atividades automáticas, como as respostas posturais e o andar”, comenta Beretta.


Por Que a Instabilidade Postural é um Problema no Parkinson?

A instabilidade postural é um dos sintomas mais desafiadores do Parkinson . Caracterizada pela dificuldade em manter o equilíbrio em situações cotidianas, como pisos irregulares ou desnível no terreno, essa condição aumenta significativamente o risco de quedas. Infelizmente, o controle postural é pouco responsivo aos medicamentos tradicionais, tornando necessário buscar alternativas complementares.

O estudo liderado por Beretta demonstra que a estimulação elétrica transcraniana pode ser uma dessas alternativas. Ao melhorar a resposta postural e a automaticidade dos movimentos, a técnica oferece uma solução inovadora para reduzir o risco de quedas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com Parkinson .


O Protocolo Experimental

O protocolo experimental desenvolvido pela equipe de Beretta incluiu testes antes e depois das oito sessões de estimulação elétrica transcraniana. Durante os testes, os voluntários permaneceram em uma plataforma que se movia de forma imprevisível, simulando perturbações ao equilíbrio. Esse cenário reproduz situações cotidianas que podem levar a quedas, permitindo avaliar a eficácia da técnica.

Os resultados mostraram que a estimulação elétrica transcraniana não apenas melhorou a rapidez das respostas posturais, mas também reduziu a sobrecarga no córtex pré-frontal, indicando maior automaticidade no controle do movimento.


Perspectivas Futuras para o Tratamento do Parkinson

Embora ainda não exista uma cura para o Parkinson , a estimulação elétrica transcraniana representa uma ferramenta promissora para o tratamento complementar dos sintomas motores. A técnica pode ser especialmente útil para pacientes com instabilidade postural, uma condição que afeta diretamente sua segurança e independência.

De acordo com Beretta, os próximos passos incluem a definição de um protocolo clínico padronizado para a aplicação da tDCS em pacientes com Parkinson . Além disso, novos estudos devem investigar os efeitos de longo prazo da técnica e sua aplicabilidade em diferentes estágios da doença.


Conclusão: Uma Nova Esperança para Pacientes com Parkinson

A estimulação elétrica transcraniana está emergindo como uma solução inovadora para melhorar o controle postural e reduzir o risco de quedas em pacientes com Parkinson . O estudo coordenado por Victor Beretta demonstra que a técnica não apenas melhora a resposta postural, mas também contribui para a automaticidade dos movimentos, um avanço crucial para pessoas que enfrentam os desafios da neurodegeneração.

Para os pacientes e suas famílias, essa pesquisa traz uma nova esperança de tratamento complementar que pode melhorar significativamente a qualidade de vida. À medida que mais estudos forem realizados, espera-se que a estimulação elétrica transcraniana se torne uma prática amplamente adotada no manejo do Parkinson .